Pudera!
 
        Ainda que Lula e Dilma não viessem à Paraíba para a recepção, com o povo, das águas que nos destinaram, o nordestino não se perdoaria de ignorá-los. O nordestino pode ser acanhado, pouco oferecido, mas não é besta nem ingrato.
        Passados quarenta e mais anos do seu providencialismo no comando das Obras Contra as Secas, completando, como ministro de Getúlio, a grande obra do presidente Epitácio, não faltou manifestantes à entrega da medalha da Abolição e cidadania cearense a José Américo, numa tarde mormacenta de Assembleia do Ceará. Uma voz contemporânea ou não da grande açudagem (a salvação daquela hora) elevou-se por entre as cabeças que  povoavam as calçadas, saudando o benfeitor  como rei do Nordeste. Eu estava entre os que o acompanhavam. O grande homem levantou a mão meio em dúvida, mordendo os lábios, sem acreditar. Bem que dissera em Cajazeiras, na última campanha de 1958: Aqui falo baixo para que o cearense não me veja ou ouça a pedir votos na Paraíba”. Tinha razão.
        Se há uma virtude imprescritível do caráter nordestino há de ser, ao lado da resistência, a gratidão. A gratidão que tem sido explorada solerte e perversamente pela pior das políticas.
        No caso de Lula, a água do São Francisco não é tudo. Mais do que um rio inteiro, remindo a sede ribeirinha, tenha-se em conta a extinção da fome imediata, a que levava para a cama mãe e filho ruídos de fome. A mesma fome que grassa no Brejo atolado na água e nos subúrbios  à margem do mercado.
        Para onde foram os flagelados destes cinco últimos anos de seca? 
Sob os bambus da Lagoa ou as marquises do centro não foram encontrados. Não arriaram a trouxa em nenhuma das frentes de emergência extintas pela Bolsa Família e as pequenas pensões dos que, na vida, não conseguiram alcançar a proteção das leis trabalhistas.
        Foi o primeiro e efetivo governo de baixo para cima. Foi a promessa número 1 tornada providência. 
        E não há como voltar atrás. A mais elitista das assembleias, a ONU, vem indicar o bolsa-família como alternativa universal para atenuar o fosso das nações com graves problemas de desigualdade.