SALVO PELO VELÓRIO!

Zé Prego gostava muito de uma calibrina. Lá na roça, onde morava, quando não encontrava uma para tomar, tratava logo de ir para a cidade, sempre farejando onde poderia encontrar uma forma de saciar sua sede. Poderia ser através da boa vontade de um amigo ou, quem sabe, participando de algum velório. Esta última alternativa foi a que prevaleceu.

O Zé ficou sabendo que um corpo iria ser velado na Capela velório próxima ao cemitério. Ainda “seco” para tomar um gole, tão logo anoiteceu, ele rumou para o local.

Na verdade, em Calambau e Porto Firme ( viu, Sebastião Santana! ) velório que se preza tem sempre um garrafão de tocaia...

Dessa vez, quem ficou na tocaia foi o Zé, espreitando onde estava sendo servida a “água que o boi não bebe”. De tanto espreitar, ele acabou desconfiando de algumas pessoas que, de vez em quando, iam para debaixo de uma árvore e por lá ficavam por algum tempo. Foi o pulo do gato! Percebendo que não havia ninguém junto à árvore , Zé aproximou-se e descobriu o que tanto desejava: - Lá estava o garrafão e, ao seu lado, um copo pronto para ser usado!

O sedento Zé tomou duas talagadas da pinga e saiu muito satisfeito. No resto da noite, repetiu a “operação furta pinga” por várias vezes.

O dia já estava quase amanhecendo e o Zé não voltou para o velório.

Nessa mesma hora, em uma casa próxima ao cemitério, Arcino e sua mulher já estavam se levantando para o trabalho. Foi aí que ela pediu ao Arcino:- Antes de você sair, amarre a nossa cabrita naquela moita de capim gordura próxima ao muro do cemitério. Ele saiu e, em pouco tempo, voltou tremendo e suando muito. O que aconteceu, homem? perguntou a mulher. Arcino, ainda com a língua enrolada, mal conseguia explicar: - Lá, no cemitério, tem uma voz gritando “me tira daqui! me tira daqui! “

A mulher, que não tinha medo de nada, foi lá conferir. Quando chegou, ouviu a voz gritando. Aproximou-se mais ainda, e viu o Zé Prego, caído em um bueiro, pedindo por socorro...

Obs.: caso real, nomes fictícios.

Calambau ,março/2017

Murilo Vidigal Carneiro

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 26/03/2017
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