“MINHAS IMPRESSÕES DA AMERICA”
 
 
Sentado olhando a noite desenhar o bordado caprichoso que tecerá por toda madrugada eu visito minha mente tão inquieta sobre tudo que vivi em apenas 12 dias.
Relembro minhas tão poucas e humildes expectativas de tudo que veria e viveria na América.
 Foram dias longos preenchidos por informações importantes e ricas.
Um choque cultural e existencial como diria minha Caçula.
Conheci pessoas que achei que já conhecia há décadas.
Experimentei o sabor da disciplina, da ordem e do real progresso.
Quebrei positivamente vários paradigmas, mas eu os quebrei por acha-los pequenos e frágeis.
Rodei nestes doze dias 1.670 milhas, algo perto de 2700 quilômetros.
Estradas, respeito ao meio ambiente e povo em consonância com tudo aquilo.
O Americano não te trata bem, mas também não te trata mal, esta na cultura deles a objetividade. Lá ninguém troca figurinha, vende e caro.
Meu sonho Americano começou no inicio dos anos 60.
Meu tio Richard, Inglês natural da cidade de Liverpol, casado com a irmã de minha Mãe, assumiu o compromisso de mandar-me aos EUA quando completasse 18 anos.
Aos 14 fui estudar no USIS, United States Information Service.
Fiz alguns cursos inclusive de estruturas metálicas para construção de hangares.
Quando completei 16 anos meu Tio veio a falecer.
O mundo quis desabar , mas eu não deixei, prometi a mim mesmo que aos 18 iria.
Mais uma vez a fatalidade mudaria o curso da historia.
No natal de 1971 minha irmã casada vem a falecer em decorrência de uma gravidez complicada.
  O mundo então finalmente caiu.
Meu Pai pirou, subiu em um caminhão e sumiu por dois anos.
Mais ou menos o mesmo período minha Mãezinha ficou de hospital em hospital sob efeitos de calmantes fortíssimos.
Com 18 anos e sozinho eu não poderia abandonar tudo e ir para a América meu sonho de menino.
Afundei no trabalho e cuidados com minha Mãe.
O tempo foi passando muito rapidamente, meu Pai retornou doente e triste, minha Mãe, sob efeitos de remédios controlados, e eu no meio daquilo tudo sem andar em direção aos meus projetos.
Dali um tempinho conheci uma boa moça que me levou para o altar, me deu três filhos maravilhosos.
A separação veio já com todos criados.
A vida tomou outros rumos e casei novamente.
Em 2012 comecei a sonhar novamente com a América, mas na minha idade qualquer coisa neste sentido e encarado como loucura.
Fiz esta viagem e retornei, cheguei e aquele choque aconteceu aqui na manha do dia seguinte a chegada.
Nunca tive depressão na minha vida mesmo porque nunca tive tempo para estes luxos.
Mas foram três dias depressivos de olhar para minhas coisas e lamentar por tanto tempo perdido.
Hoje um pouco mais aclimatado e tropicalizado eu me pergunto se tudo isso já não estava escrito, se não existe um destino definido para cada um, pois os caminhos percorridos me remetem a um filme mental onde tudo é muito real.
As coisas se parecem com tudo que eu planejei a mais de 50 anos.
Os Amigos que fiz na Florida parecem que estavam me esperando para nos reencontrar, mas como? Se não sabíamos da existência um do outro!
Enfim a volta é desconcertante, pois mesmo em espaço aéreo comecei a me dar conta que estava voltando para o mesmo cenário que havia deixado, de corrupção, de desmandos, de injustiças sociais, tão absurdamente diferentes daquilo que havia deixado horas antes.
E aqui estou com a cabeça fervilhando de planos mesmo aos 64 anos de idade.
Ainda não sei como fazer esta transição, mesmo porque ela é complicada, somos um País sem nenhum acordo Diplomático com os EUA, tudo para o Brasileiro é mais difícil e caro.
Mais uma vez eu vou confiar em mim e nos meus objetivos e tentar escrever o meu destino.
Mas desta vez creio que em consonância com o Universo.
O sonho da América me sustentou na adolescência e juventude e quem sabe na minha velhice também.
Quero dar a oportunidade que por algumas vezes o destino me ceifou, a meus filhos e netos!!!
Deus Salve a América!!!