Longa caminhada

Joana é uma trabalhadora dedicada. Mas a vida não lhe concede facilidades. Outro dia, ela contava aos seus colegas uma de suas, digamos, peripécias.

-- Ao encerrar o expediente, peguei uma carona com um amigo, que me deixou no centro da cidade, onde pegaria um ônibus e poderia até chegar mais cedo em casa.

Joana só não esperava os transtornos que lhe viriam a seguir.

Encontrava-se na Praça da Bandeira, local de intenso movimento de pedestres e automóveis no Rio de Janeiro. Já eram quase 18 horas. Aguardou mais 20 minutos, quando enfim avistou o ônibus que lhe levaria para o aconchego de seus familiares. Ela e outras pessoas deram sinal para que ele parasse e todas entraram.

Ao chegar sua vez de passar pelo cobrador, pegou o cartão na bolsa e encostou na catraca. O equipamento recusou. Passou de novo e nada de ter seu acesso liberado. Aí é que se lembrou:

-- Meu Deus, esqueci-me de que já não havia mais crédito!

Pegou um cartão novo, mas sem esperança, pois este só estaria ok para uso depois de 24 horas.
E agora, o que fazer? Não tinha nem uma moeda na bolsa.

Explicou sua situação ao cobrador, mas não teve jeito. No próximo ponto, foi obrigada a descer.

Na rua, revistou um pouco mais sua bolsa. Quem sabe algum trocado ficara ali despercebido entre seus pertences. Nada encontrou. Foi então ao caixa eletrônico tentar sacar pelo menos R$ 10,00. Sua conta, no vermelho, não liberou nem um centavo.

Tentou arranjar uma carona pelo menos até próximo de casa. Outra vez sem sucesso. Hoje em dia as pessoas andam desconfiadas.
Não lhe sobrou alternativa se não seguir a pé. O trajeto, cerca de duas horas, teria ainda seus perigos. A violência nas noites da capital carioca é uma triste realidade.

Fervorosa e mulher de atitude, Joana não se desesperou. Antes de seguir seu caminho, retirou da bolsa um pequeno livro do escritor Paiva Netto, “Jesus, a Dor e a Origem de Sua Autoridade”, que lhe proporcionava sempre boas inspirações. Abriu ao acaso uma página e leu mentalmente:

-- “Suplantar a adversidade foi uma das maiores lições que Jesus nos legou. E o Pai Celestial deu-Lhe a Sua bênção, fazendo-O herdeiro do Poder e da Autoridade Dele. Jesus, o Pedagogo Sublime, misericordiosamente oferta essa Magna Autoridade – em diversos graus, na escala da experiência celeste – aos que já tenham compreendido que o governo da Terra tem início no Céu”.

Joana pensou:

-- Com exceção de meu amigo, que teve a gentileza de me trazer até aqui, está um pouco complicado encontrar hoje alguma caridade. O cobrador do ônibus foi irredutível, tive que descer do veículo; minha conta bancária não faz negócio comigo quando estou em dívida; nos tempos atuais, conseguir carona de um motorista desconhecido é temerário para ele e para mim também.

E a conclusão de Joana, ao refletir sobre a passagem do livro que acabara de ler, foi clara:

-- Jesus, o Ser mais generoso que já passou pela Terra, enfrentou situações piores que a minha. Ele há de me proteger e abençoará meu esforço extra de hoje.

Decidida, apertou o passo e conseguiu chegar segura e confiante em sua casa.

No dia seguinte, mesmo exausta, levantou-se de madrugada, pois precisava pegar duas conduções para retornar ao trabalho.

A existência diária é assim mesmo. Desafios nunca faltam; mas a determinação de vencê-los e seguir em frente é escolha individual.