Sonho de Feijão

A lembrança daquele feijão dentro do pote de sorvete napolitano ainda me corta o coração. Os meus olhos brilhavam diante do desejo de comer sozinha aquele sorvete, sem dividir com nenhum irmão.

Foi a minha primeira decepção...

Descobrir que Papai Noel e Coelhinho da Páscoa não existem não dói tanto, desde que o seu pai esteja empregado para pagar o trauma.

Hoje saí do trabalho com a mesma cara sem graça e o mesmo jeito desengonçado. Atravessei a rua para entrar no shopping. Eu sabia que lá dentro tinha uma de mim se divertindo.

Em cada vitrine eu usava uma roupa diferente. Hoje eu estava mais elegante do que o normal. Só na loja de perfumes que eu não estava porque personalidade tem uma fragância única.

Muitas "mins", caras, baratas, divididas e liquidadas. No alto, no salto, no chão e de brinquedo...

Mas hoje eu estava mesmo na loja de presentes para procurar íntens para a minha lista de chá de panela. Estava muito mais lá do que em qualquer lugar.

Porcelanas caras!!! Mas eu pago o preço. Porcelanas raras... Escolhi um prato maravilhoso, delicado e intenso! Segurei firme com uma das mãos e com a outra acariciava o seu relevo. Segurei ternamente com uma das mãos e com a outra... também. "Vou levar! Quanto é moça?"

CACOS

(silêncio)

...

A moça do caixa num gesto repentino jogou o meu prato no chão e docemente sorriu:

- Que tal esta cortina? Ela esconde o sol e a lua, você terá sombra e proteção. A porcelana não é pra você.

Deixei então. Sem sorvete e sem porcelana.

"Obrigada pela gentileza, eu já tenho cortina."

É hora de ir pra casa pra colocar o feijão no fogo.

Mariane Dalcin
Enviado por Mariane Dalcin em 06/08/2007
Reeditado em 19/07/2009
Código do texto: T595924