Saúde, fome e miséria

Em um ano com superávit na balança comercial, dantes nunca visto na história das nossas exportações, acendendo esperanças em dias melhores, brisas mais amenas saídas da boca sorridente de um governo socialista querem subtrair do já tão franzino cofre da saúde brasileira níqueis indispensáveis, o que sem dúvidas fará muita falta ao povão. Essa, se concretizada, será a mais maléfica ação desse governo que se diz preparado para polvilhar, nos quatro cantos desta nação, a justiça social. Eu me pergunto: pode haver justiça social sem saúde? Andrajo é roupa?

Leitos hospitalares desativados, hospitais à beira da falência, doentes debatendo-se para não morrerem nos corredores dos hospitais públicos e privados. Quem sustenta esse planejamento hediondo? Esse famigerado tesouro nacional não dispõe de algum trocado a mais para a saúde combalida deste país continente?

O dinheiro para a propaganda do governo sai de onde? O sono desses planejadores da saúde, como lhes chega? A justiça até onde pode tolerar tantos desacertos? Não se compra roupa nova antes do alimento. Os andrajos dos brasileiros cobrem-lhes até a alma. Quando um ministro adoece, não vai para as imensas e cruéis filas do SUS. Tem dinheiro para bancar um plano de saúde. Mas, quando morre um brasileiro sem nome e sem cidadania nos cafundós do Juda, esse mesmo ministro corre à mídia televisiva e vomita seu falso lamento, discursando o que não lhe habita na alma e tentando justificar o injustificável.

Deve-se tratar o Brasil, vesti-lo e, só após isso, pensar em sua segurança e em seus desenvolvimentos, tecnológico e cultural. A fome e o frio matam mais depressa do que se pensa. Alimentação zero não vale! O Fome Zero se arrasta! O povo desce no desembesto do desgoverno como bólides de miseráveis. Basta! Há de nascer um Brasil diferente. O Florão do nosso hino tão belo de cantar-se e tão longe do dia-a-dia de sua gente não nos enche a barriga: os governos se sucedem, as idéias se renovam, os horizontes são desbravados pelos bandeirantes da pós-modernidade, mas um miserável faminto e doente não dura dois verões sequer. A saúde do Brasil é peixe fora d’água buscando respirar uma sobrevivência dificílima de achar-se. Na sala de espera há um retrato fúnebre. A alma do brasileiro está a escrever a miserável doença de sua fome: não ter a saúde constitucionalmente prometida nas entranhas de suas leis, como exercício de cidadania e não suposto sonho crível de ser documentado para apreciação futura.

Não posso crer que se faça com a nossa combalida saúde o que foi desenhado e negado pelos governos passados, cujos registros não foram escritos para não serem mais tristemente lembrados. Adianta-nos o zelo pelo saneamento por programas de prevenção de doenças e garantias de uma alimentação saudável. O hino e a bandeira de um povo estão na densidade de sua sensação de cidadania plena. Promessa vã que o vento a leve! Coragem de mudar para melhor que não seja só um sonho, mas um registro forte da vitória de uma nação que quis e soube escrever seus rumos numa independência sadia. O que esperamos para já são homens longevos, trabalhadores satisfeitos, integrantes de uma nação de gente alegre e sadia, que não precisa mendigar alimentos e assistência médica decente.