O mar, eu e a poesia

Certa vez, estive diante do mar, despreocupado com a vida à sua margem. Olhei da marola ao azul infinito que se escondia além de minha imaginação e senti o resplendor de minha própria busca. Abracei o imaginário e saudei a poesia que me acercou, como se viva se desce ao meu contentamento por achar-me tão feliz diante daquele quadro cuja força me inebriava.

Uma onda levanta-se para andar na frente do vento veloz que passa e volta e sopra a água não tão mansa e o movimento dos mares se recompõe e se refaze e assim eterniza-se na desigualdade de cada uma dessas ondas. Quebram-se elas no beijo da praia e espumam desenhando uma fragilidade que não lhes é própria, porque a mesma espuma frágil que beija a areia sobe evaporada às nuvens e desce aquecida por trovões e relâmpagos para se nascer onda nova das águas referidas tão apaixonadamente pelo autor.

O homem apanha o barco nos braços e o põe sobre as ondas. O balanço que recebe seu corpo ensina-lhe o equilíbrio e esconde-lhe as náuseas que logo se esvaem como pequenina indisposição sem olhos que não falam da história viva do mar.

O poeta põe esse mar na palma da mão, verseja os trovões e os relâmpagos, beija a lua horizontada na noite festiva cravejada de estrelas e ainda põe o sol no bolso. Quem é maior: o mar ou o poeta? Ai do poeta não pudesse ver a Lua ou contemplar o Sol ou não ter o movimento lírico das ondas ou não possuir praia qualquer onde descansasse a alma!

O mar, sim, está para o poeta como o rio para o oceano. As águas misturadas que descem beijando leitos estranhos, unem-se sob o céu e sobre o mar, no vai-e-vém das mais sublimes transformações que enchem a vida da natureza. Como gostaria pudesse eu plantar um pé de poemas de cheiro absíntico. Eis que moraria no céu, teria a alma lavada por esse mar e meu barquinho, flutuando sobre esses rios correntes na direção do cheiro da poesia, me levaria ao pé florado dos poemas que aprenderia a declamar em homenagem à vida.

É por esse motivo que sou poeta de mim para sê-lo do mundo. Através de meus olhos acesos, vibra meu coração que, provocando meus punhos, sobrevive no papel que, calado, deixa-se riscar para imortalizar o sonho doce do meu imaginário. A vida me é uma grande poesia que laça meus passos peregrinos e me torna doce ante o sal mais cáustico que, caindo das desilusões, parece alimentar outro sonho diferente. Vivo, pois, afoito e no percalço da felicidade, consigo ver a criança, com seu sorriso desafogado, usufruindo da única época da vida em que se pode ser duplamente poético.