A ESCOLA DA MINHA ALMA

Um dia, que já vai distante, eu percebi que a minha alma era uma espécie de escola, freqüentada por sentimentos de variadas origens e condições, que eram seus diletos alunos.

De acordo com essa minha compreensão simplória, lembro-me bem que durante muito tempo, a vaidade não deixava um só instante de sentar-se à primeira fila.

Exibia seus conhecimentos ilusórios, distribuía gestos afetados, falava com arrogância, e se intrometia em todas as questões, mesmo quando ninguém, em minha alma, no momento de aprender, pedisse a sua inconveniente opinião.

A ambição não queria perder nenhum dos prêmios, que a minha alma tivesse para conceder. E lutava com todas as suas energias para conquistar os mais ricos galardões.

Lá, no fundo da sala, que era a minha alma, escondia-se a ingratidão, que nunca andou sozinha, que jamais dispensava a indesejável companhia da traição.

Sempre que podia, o aprendizado era interrompido pela sua atitude de rebeldia, de indiferença, de frieza, diante dos nobres gestos de outros sentimentos, que queriam triunfar nas letras, nas artes, nas técnicas, nas ciências, que se ministravam na escola de minha alma.

O ódio se ocultava, nas filas das paixões, que eram muitas, e toda vez que a razão não estava presente, ele ditava soberania, violência, pregava a destruição dos meus valores positivos.

Mas, à frente de toda essa turma havia aquela mestra irrepreensível, serena, quando tinha de vencer pela paciência, mas enérgica quando era indispensável dar a grande lição.

Essa mestra – a Dor – incansável trabalhadora de minha alma, conseguiu, como por milagre, transformar meus sentimentos incultos, em renúncias, resignações, amor fraterno.

E hoje, este amor maior e puro canta poesias, entoa hinos de glórias, clama pelos meus irmãos, para que tenham paz.

Minha espécie de escola, com esse tempo de sofrimento, essa eternidade de lições divinas, hoje, está cheia de bons alunos, meus nobres sentimentos. Não vejo mais o gesto grosseiro e ilusório da vaidade. Não sinto a voz da ambição. No fundo a pureza e a gratidão. Sou como água límpida, cristalina que mitiga a sede, mas nasceu de uma grota escura, desceu por leitos de rios barrentos.

Conquistei o céu. Que vós todos possais conquistá-lo, dentro de vós mesmos, nessa espécie de escola que é a alma humana, onde os alunos são os sentimentos.

Jaubert
Enviado por Jaubert em 07/08/2007
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