ERNESTITO

"Vale milhões de vezes mais a vida de um único ser humano do que todas as propriedades do homem mais rico da terra".

Quem disse isso aí não fui eu, foi o Che, aquele mesmo que tentou salvar uma parte do mundo das mãos dos gananciosos e ditadores, aliás, a parte que ele tentou salvar é justamente a nossa, a dos pobres das Américas central e do sul. Decidi iniciar um texto com frase do Che Guevara e também terminarei com outra pérola do nosso revolucionário; eu não sou fã dele, nem sou alienado de um partido político hipócrita que usa sua imagem, mas não suas atitudes e exemplos. Decidi incluir ele em meu texto em virtude da sua coerência, porque hoje acordei com uma chama em mim que já está virando incêndio e clama por coerência.

Quem para pra ver a biografia do senhor Ernesto “Che” Guevara de La Serna impressiona-se mesmo não sendo solidário as suas idéias, o que chama atenção neste mártir que partiu na juventude de seus 39 anos, fuzilado por um pelotão de execução boliviano, é que mesmo após libertar (ou aprisionar através de uma ditadura) Cuba, receber status de ministro e ser reconhecido mundialmente o Ernestito, como era chamado por seus pais quando criança, nunca abandonou seu sentimento guerrilheiro e foi para linha de frente de outras revoluções; apesar de ter morrido em uma destas empreitadas como já citado.

A indignação deste jovem médico surgiu em sua infância e floresceu na adolescência regada a Marx, Engels e Lênin; desbravador percorreu a América com um amigo de moto durante os 10.000 Km de sua viajem indignou-se ainda mais com as desigualdades sociais e a opressão imposta pelo poder econômico. Ainda hoje Che Guevara tem muito a nos ensinar, mesmo sendo usado como propaganda política por alguns hipócritas, as lições deste lutador das causas humanitárias deveriam ser ensinadas nas escolas para nossos jovens, afinal trata-se de um cidadão, um médico, um civil; Guevara não foi militar, ele militou nas causas importantes para uma vida digna em sociedade. Em nosso país atualmente as diferenças sociais são muito maiores que nossas políticas públicas e a urgência dos oprimidos em libertar-se dos opressores é bem mais real do que as palestras promovidas para discutir as leis e as metas. Precisamos de pessoas mais coerentes na vida política desse país.

Não acredito que consigamos mudar o cenário político e social de nosso país com estes que ai estão, infelizmente nós (e veja que me incluo nisto) já estamos “estragados” demais com o nosso pluripartidarismo, perdemos nossa coerência faz tempo. Mas ainda há esperança nas escolas. Estimular nossos jovens a retirar o véu da ignorância de seus olhos, cultivar a indignação, assim como Thomas Jefferson previu: “a indignação move o mundo”. Formar cidadãos coerentes é um princípio fundamental para construção de um país mais justo e que resolva com mais agilidade as necessidades de nosso povo tão sofrido.

Saúdo aqui aqueles que de alguma forma tentam fazer a diferença; professores, jornalistas, políticos, ong´s, cidadão, profissionais liberais, voluntários, entre outros que acreditam ser possível um mundo melhor e mais justo. Aproveito para condenar todos os outros que alocados em nossa sociedade preferem olhar para o próprio umbigo, em especial aqueles que se vendem e perdem a coerência de seus sonhos e ideologias. Acredito que aquele que faz o mau a outro é ruim, mas aquele que assiste passivo isto ocorrer é tão criminoso quanto. Clamo coerência!

O falecido Betinho da Ação Contra a Fome e pela Cidadania em um dos seus comerciais globais contou uma sábia parábola a qual farei eco aqui:

“Certa vez a floresta pegou fogo e, durante o incêndio, todos os animais começaram a fugir. Lá habitavam uma variedade imensa de animais distintos, era certamente uma fauna riquíssima. O elefante em sua fuga notou que um pequeno pássaro passara diversas vezes por ele em sentidos opostos ora indo para longe do fogo, ora contra ele. Quando chegou a uma distância segura do incêndio parou para observar melhor aquela cena, reparou que o pequeno pássaro voava até um lago pegava com seu pequeno bico uma pequena gota de água e retornava a floresta para derramar esta gota sobre o incêndio. Percebendo a intenção do pequeno pássaro em apagar o incêndio com aquele gesto “absurdo” o elefante chamou o pássaro e o indagou: - Você não nota que nunca apagará este enorme incêndio com uma pequena gota de água?!

Respondeu a ave: - Mas se cada um de nós pegasse um pouco de água (entenda fazer sua parte) ao invés de correr preocupado consigo próprio, o incêndio já estaria apagado!”

Moral da história? Faltam pássaros lutadores, médicos revolucionários e elefantes observadores. Estamos em extinção devido a nossa incoerência moral.

Ah! Não podemos esquecer a frase do Ernestito:

"No momento em que for necessário, estarei disposto a entregar a minha vida pela liberdade de qualquer um dos países da América Latina, sem pedir nada a ninguém..."

Thiago Denardin
Enviado por Thiago Denardin em 07/08/2007
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