liberdade 2

Liberdade fez pensar outros tempos, não tão remotos, da Ditadura Militar.

Quando vieram à memória algumas conversas com os colegas hoje distantes:

“liberdade não temos, ditadura é o que tememos, vamos para a Estação liberdade”!

Ali estávamos agora sem Ditadura e com uma acanhada Liberdade!

Mas, o caminhar na Avenida Liberdade era recordar o presente no passado e sem futuro, é o que sentíamos nos passos dados de cada passante, passando, pássaros, passados a passos largos apressados ou não.

Naquela avenida, como em tantas outras naquela e daquela cidade, havia tantas outras pessoas abetumadas procurando uma sombra. Era um vaivém de rostos, pernas e vozes, e deu para ouvir, num relance do comércio e também de algumas vozes femininas paradas nas esquinas, que pediam quase num lamento: Vem!

O corpo na vitrine chamava a atenção.

Em plena Avenida Liberdade e em algumas esquinas, algumas meninas-moças à espera de alguém que pagasse o preço de terem ficado mulheres envelhecidas, na falta de compreensão dos mistérios do ser.

E sem saber pediam: Vem!

Vem! Elas nunca souberam o que era o livro; página por página, seria um romance censurado.

O verbo Educar nunca conjugado.

Elas nem sabem se cometeu algum romance, se irão ter alguma chance, se os homens que por lá singravam todos os dias, passavam para quê?

Quem sabe queriam enlouquecer, se haviam sido vacinados ou se estariam no recôndito de algum cio venéreo!

Se o comércio da droga, o preço do aluguel do quarto no prédio, do tédio, da camisinha e do corpo, estava tudo somado no lucro, ou descontado, na agonia de alguma mais-valia.

No vaivém do abrir os zíperes; fechavam as esperanças de alguma dignidade.

Em troca de algumas poucas moedas, às vezes se carregam nas veias as venéreas angustias do sofrer.

Enfiam-se no seu túnel, algumas indesejadas gotas de espermas, contaminados de ódio e carregam alguma gestação de algum búzio fora de tempo e sem tempo.

Elas, naquelas esquinas, ofereciam fantasias:

Vem!

Suas realidades eram muito cruas e nuas naquela Avenida anotada e moldada, na placa a palavra:

Liberdade!

Em uma das lojas de venda de discos, CDs tocava em alto som.

“-Não me deixe só tenho medo do escuro, tenho medo do inseguro dos fantasmas da minha voz”. Vanessa da Mata