Ansiedade em crise

Eu vi rapinas vindo a meu encontro.

Vi correntes se engalfinhando.

Vi o fim da estrada. E nada havia além do breu.

Os antigos corpos falam em meus ouvidos.

Eu tento expurgá-los.

Insistentes eles resistem.

Me arranham os braços.

Meus dentes brincam a ranger.

A raiva e o medo brigam pelo meu domínio.

As costas começam a se curvar à grande soberana.

A tempos não encarava uma vinda tão imponente. Ela exibe a parte de baixo de seu nariz deixando visível toda a sujeira. Seus olhos me encaram demonstrando toda a doçura de sua dor. Ri aos poucos de minhas atitudes enquanto me abraça, conta piadas do meu passado e figura o ódio. E então, quando já estou entregue em seus braços, sua lâmina corta o meu estômago. O ventre rasga e esparrama minhas vísceras pelo chão.

As rapinas se assustam mas avançam em meu caminham.

Minhas pernas imploram minha saída.

Eu permaneço.

Mas, aí as rapinas me mordem.

Enquanto fujo ao desespero elas engolem os meus restos, regozijadas com minha dor.

Ultrapasso a última linha e me afogo no breu.

Minhas pernas correm desesperadamente para algo que não sei o que é. Meus braços se balançam furiosamente em busca de algo para se segurar.

A correnteza me leva e eu me afogo. Me afogo mil vezes. Tremo como um animal abatido. E me afogo novamente. O peito arde, enquanto a lama sai do pulmão. O ventre exposto corrói-se e me dobra no chão.

Desperto no banheiro sujo. Os braços com marcas de garras.

As pernas com face de murros.

O rosto mutilado.

O corpo dolorido por um todo.

No espelho uma versão humanoide, mal esculpida daquelas aves que brigam.

Saio, depenado. Do lado de fora, a correnteza se foi. As rapinas também, mas seus olhos não.

E a soberana deixou em mim sua marca.

Mais uma marca.

De todos os senhores que servi.

Ela permanece ao meu lado, e se apresenta aos moços.

Sigo meu caminho.

Tento fazer com que não me vejam.

Cabeça baixa.

Sem fala.

Assim ela hei de me esquecer.