Ei! Eu vi primeiro! Era o que eu gritava quando era criança quando encontrava algo que queria e outra também. Cada uma gritava mais alto que os demais e a gritaria era imensa até que alguém intervisse e pusesse fim naquela disputa infantil.

O tempo passou e dia desses alguém falou alto atrás de mim: eu vi primeiro, puxa vida! Pronto. O alerta soou e fiquei procurando o que foi que ela viu primeiro. Não vi nada que pudesse ser alvo de disputa, pelo menos para o meu olhar, pois é lógico que é uma disputa.

Dizer que viu primeiro algo é querer se apropriar desse algo. Quer dizer que é dono de uma situação, que é melhor que o outro porque diz que viu primeiro, que sentiu mais que o outro. É a sensação de poder sobre o outro, sensação de superioridade, de ser melhor porque se compadeceu primeiro, porque ajudou primeiro, e, assim segue essa humanidade se seres imperfeitos ansiosos pela perfeição sem no entanto se ater ao teor da perfeição.

Aí, olhei pro céu. Não fui a primeira que o viu, assim como a lua, o mar, as matas, o lodo, nada. Tudo estava aqui antes de nós nascermos. Nem o nascimento de meus filhos fui a primeira a ver. Quem os viu primeiro foram os médicos e as enfermeiras que os receberam, os fizeram chorar para aprenderem a respirar nesse mundo doido. Portanto...

Mas uma coisa, aliás, quatro coisas eu vi primeiro, antes que as demais pessoas que me cercam. Foi o rostinho, delicado dos meus filhos na hora da primeira amamentação. Sublime momento! Ali, naquele momento, me apossei do poder de ser mãe. O poder de alimentar outro ser humano. Naquele momento me senti enormemente poderosa e feliz. E preocupada também. O poder de amamentar inclui o poder de abdicar de si em favor de outro ser completamente indefeso.

Eu vi primeiro que o pai deles o poder da cumplicidade, o poder da família, o poder do pai e da mãe. Eu vi, naquele momento que eu seria um feliz anjo da guarda com todo o poder divino me transferido pelo imenso amor de Deus.

Quando eu vi o primeiro sorriso de cada um, o primeiro passinho, eram situações que me transportavam para o infinito, para o meu íntimo ,ais íntimo e, ali eu percorria os caminhos do medo, da insegurança, da tolerância, da obediência aos desígnios celestes. E senti medo ao mesmo tempo que um profundo orgulho de minha condição humana.


 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Eu Vi Primeiro
Saiba mais, conheça os outros textos:

http://encantodasletras.50webs.com/euviprimeiro.htm

 
MVA
Enviado por MVA em 17/04/2017
Reeditado em 17/04/2017
Código do texto: T5973478
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.