HISTORIAS DA VILA -Ribeirão Arrudas

Historias da Via

Ribeirão Arrudas

Com a expansão dos subúrbios de Belo Horizonte, e a chegada dos imigrantes, fugindo da seca e das dificuldades do interior e com expectativa de vida melhor, surgiu um grave problema, que era a moradia, como os lotes regulamentados eram altamente valorizados, não restou aos novos moradores, ocupar aqueles terrenos que não tinham nenhum valor e sem nenhuma infraestrutura, assim foram se amontoando nos morros, grotões, buracos e as margens dos rios e córregos da capital, assim nascia uma favela. Neste cenário, surgiu no lado oeste da capital, a Vila Ambrosina. Que tinha todas estas características, morros, grotas muitos buracos e ficavam às margens do Ribeirão Arrudas. E é deste ultimo que vamos falar. No começo suas águas ainda eram limpas e se pescavam com abundância, com o passar do tempo e com o crescimento da capital e ocupação desordenada de suas margens, estas águas ficaram poluídas. E as nossas lembranças partem deste momento, brincávamos às suas margens, bebíamos das águas das minas que teimavam em brotar o ano inteiro pelas pedras que ficavam escondidas entre as samambaias e outras plantas, corríamos pelas suas margens através dos matagais, subíamos nos pés de Ingás e outras arvores, alimentávamos dos cocos da macaúba, fazíamos armadilhas para pegar tizius, coleiras, pretinhos e outros pássaros e no fim da tarde, ignorando todos os perigos de contrair doenças e vermes, mergulhávamos em suas águas poluídas. Mesmo poluído o rio tinha valor para a comunidade, pois através da extração da areia e do cascalho, muitas famílias tiravam ali o seu sustento. O rio tem varias historias e uma particularmente que presenciei e trago na memória, foi a de uma criança que brincava em suas margens e por um descuido escorregou caindo dentro do rio, sendo levada pela correnteza, algumas pessoas conversavam tranquilamente em um boteco, quando uma delas chamou a atenção para uma boneca que descia na correnteza, por instinto ou tocado por Deus, um deles se atirou nas águas, gritando, não é uma boneca é uma criança, e rapidamente a socorreu, salvando-a. No período das águas, época de chuva, a tranquilidade era afetada para aqueles que moravam mais próximos do seu leito, pois a grande quantidade de águas provocavam as temidas enchentes e toda a comunidade se mobilizava para ajudar estes moradores, pois o rio querendo retomar aquilo que era seu inundavam os barracos, levando através das correntezas os pertences, mobílias e tudo aquilo que encontrava pela frente. Aventureiros aproveitadores se atiravam nas águas para tentar recuperar objetos, animais ou qualquer outra coisa que lhes dessem lucros. No outro dia só restavam aos moradores contabilizar as perdas. E foram estas enchentes, que é uma situação natural, que decretou em uma luta desigual sem direito a defesa, a morte do Ribeirão Arrudas e toda a riqueza natural de suas margens.

Charles Vagner

Charles Vagner
Enviado por Charles Vagner em 19/04/2017
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