Devaneios

Eu ia ao cinema hoje.

Talvez eu vá ainda, mas de repente, comecei a achar deprimente essa idéia de ir ao cinema sozinha, depois tomar um café sozinha, voltar pra casa sozinha e não ter nem um computador, pra continuar em casa sozinha, na ilusão de estar acompanhada de um monte de pessoas que estão a quilômetros de mim.

Não sei o que aconteceu comigo nos últimos tempos.

Acho que estou envelhecendo mesmo.

Quando eu tinha 15 anos, eu adorava dizer, na verdade, esfregar muito bem esfregado na cara dos outros, que eu ia estudar fora da cidade, assistir faustão enquanto meu marido preparava o almoço, sustentar a casa com o dinheiro e suor do meu trabalho e, inclusive, ir ao cinema sozinha, como uma dessas mulheres independentes do mundo moderninho.

Hoje, nos meus quase 20 anos, eu já não tenho essa certeza de que quero ser uma mulher independente.

Nessa hora, os termos se confundem.

Independente ou sozinha, pra mim, tanto faz.

Ser independente é não ligar pra estar/ficar/fazer sozinha, e cara, eu ligo!

Eu quero alguém que vá comigo aonde eu preciso ir, eu quero alguém que saiba me explicar o que são todas aquelas taxas que o banco me cobra todos os meses, quero que me ajudem com as contas, com as panelas, com os números dos ônibus.

Eu quero que alguém vá comigo assistir a porra de um filme qualquer!

Eu ligo muito.

Eu tenho surtos, crises, medo, muito medo, de estar sozinha.

E é por isso que talvez eu não vá ao cinema hoje.

Eu não quero me acostumar.

Fernanda Galhardo
Enviado por Fernanda Galhardo em 08/08/2007
Reeditado em 08/08/2007
Código do texto: T598161