Diario de Bordo - Segundo Ato #A ovelha do Motel

Com pouco dinheiro que eu economizei para construir uma nova vida, o que sobrou foi morar em um motel, tinha que recomeçar, queria ter uma vida normal, que pena, eu nunca deveria ter ido morar naquele motel sujo e fedido.

Aquela espelunca habitava as pessoas mais abissais, meu quarto ficava no terceiro andar de um prédio de três andares, moravam naqueles quartos alugados, traficantes, prostitutas, mulheres separadas vendedoras ambulantes de balinhas, brutamontes e um ou dois casais normais, na maioria pessoas estranhas.

O dono do estabelecimento era um ex padre, um pedófilo, dos dentes sujos e uma mania de comer as pessoas com os olhos, um porco. Bem, o que me sobrou foi uma escolha, ficar naquele motel que podia pagar ou dormir na rua, a primeira opção era mais agradável, arrumei um emprego em uma lanchonete para ganhar um pouco mais que um salario minimo trabalhando doze horas por dia e tendo que suportar cantada de caminhoneiros que almoçavam e bebiam naquele estabelecimento. O tempo foi passando, as vezes eu sentia saudade da cama quente e macia da casa de Vanessa, outras vezes o reformatório parecia melhor do que aquela minha vidinha. Depois de um ano nada mudou, o que ganhava só dava para o minimo necessário, eu precisava de dinheiro, precisava de uma vida digna, muitas coisas mudaram desde a morte da mamãe só minha vida que continuava uma merda. Observei que minha vizinha de quarto uma morena, sempre bem vestida, com carro do ano, sapatos de grifes e bons perfumes, mesmo assim morava naquele motel, eu resolvi forçar a barra e um dia esperei ela na porta, antes dela entrar no seu quarto, eu a interrompi e perguntei:

- Ô moça, espera ai um pouco, tudo bem? Me chamo Graziele, eu sou sua vizinha.

- Bom para você - Ela respondeu.

- Posso falar contigo?

- Não.

- Nossa, eu só queria saber como faço para arrumar sapatos tão bonitos como o seu.

- Vá se fuder, me deixa em paz sua retardada - Ela disse.

- Credo, eu só perguntei. - Foram nossas ultimas palavras. - Ela entrou no seu quarto e me deixou ali falando com o vento.

No dia seguinte quando levantei, resolvi fazer mais uma tentativa, bati na sua porta, uma, duas, três vezes, nada, parecia que garota não estava, fiquei esperando ela chegar e não apareceu, passaram duas semanas e ela continuava sumida, fui até o filho da mãe do ex padre e perguntei se ele sabia de algo, ele me falou que o aluguel do mês ela já tinha pago e isso que importava e que não queria saber de problemas de inquilino. Resolvi naquele dia quando todos estavam recolhidos e dormindo entrar no quarto dela, quando finalmente tive êxito, a primeira cena que contemplei foi o corpo no chão, constatei que ela estava morta, overdose. Quase não acreditei quando percebi uma mala que estava no chão junto daquele cadáver cheia de dinheiro, muita grana, muito dinheiro mesmo. - Quem era essa garota? - Eu me perguntei.- Na bolsa dela uma agenda, com vários nomes, uma lista que parecia ser de clientes, fui investigando tudo no quarto, encontrei sacos de maconhas e cocaína, muito mesmo, a garota não era só uma viciada, era uma traficante. Fechei a mala, peguei toda a droga e tudo de valor no quarto e levei comigo. Depois de alguns dias o corpo começou a cheirar, a policia apareceu, falou com todos os hospedes e arquivou o caso, alguma coisa de muito grande aquela garota estava envolvida.

Mudei daquele lugar e agora com grana podia sair do emprego, comprei algumas roupas, um carro seminovo e tomei uma decisão, saber mais da garota, quanto mais procurava saber, mais eu ficava cansada de não ter nenhuma informação.

Recordei da agenda, peguei a mesma e liguei para um dos números de um homem chamada Artur. Quando atendeu uma voz foi logo falando:

- Renata? Quem é? Quem está com o numero da Renata?

Eu desliguei na hora, agora sabia que aquela garota chamava-se Renata.

Escolhi outro numero da lista com o nome de Dr. Almeida. Quando liguei chamou, chamou e ninguém atendeu, tentei mais cinco vezes, e continuava sem ninguém atender. Escolhi outro numero, com o nome "Principal", não era um nome de pessoa, mas uma referência, quem era esse "Principal", resolvi ligar para ele.

- Alô, aqui é o Marcedo, quem esta falando?

- Quem é você? - Eu perguntei.

- Sou Marcedo, e você que esta do outro lado da linha deve ser quem esta com as drogas que a Renata ficou de me entregar. Que bom que ligou, como podemos fazer para você entregar o que me pertence?

- Não tenho nada.

- Deixa de ser tola garota, quem quer que você seja, esta com algo que não é seu, você tem duas escolhas, entregar minha encomenda ou ser morta quando te encontrar. Qual você escolhe?

- Que tal você pagar pelo que tenho?

- Você está brincando comigo?

- Pelo que sei, essa droga não foram pagas, por isso não está com você ainda.

- Parece que você quer negociar, garota?

- Duzentos mil pelo que tenho.

- Você é louca, não irei pagar isso para você.

- Foi bom falar com você, tchau... - Desliguei o telefone na cara dele.

Alguns minutos passaram e o telefone tocou, o mesmo numero que liguei, era o Marcedo, ele ofereceu cento e cinquenta mil para eu entregar os pacotes de cocaína. Achei muito justo e combinei o local da entrega. - "Daqui a dois dias no centro da cidade em um local público."- Combinamos. - Falei que estaria de vermelho e com uma pulseira azul no braço. Quando o dia chegou, ele cumpriu o acordo, apareceu no horário marcado com quarto capanga fortes e altos, fiquei de longe observando, e pude ver quem era aquele sujeito audacioso, ele ficou me esperando, meus planos eram outros, quando ele percebeu que eu não apareceria, ligou incessantemente para o telefone da Renata.

Não seria tola de entregar aquele conteúdo, e ser seguida por algum de seus capataz, eu agora conhecia o Marcedo, anotei a placa dos carros e fui atrás para saber onde ele morava, o que fazia e onde costumava frequentar.

Depois da minha pesquisa, constatei que ele era um grande magnata da sociedade e que adorava ir em um bordel. Tratei de ser contratada para aquela casa de prostituição. Quando ele apareceu no bordel com seus rapazes ele ficou impressionado comigo e pediu para que eu fosse a sua garota naquela noite. Isso não era um problema, ficamos sozinhos, ele foi educado, e confessou que eu era a mulher mais linda que ele tinha visto em toda a sua vida. Eu e ele transamos a noite inteira, quando ele partiu prometeu voltar em duas semanas.

No seu retorno, novamente ele me escolheu, ficamos sozinhos novamente, o que ele não sabia que naquele noite ele não ficaria tão bem como na noite passada. Eu convenci ele de se entregar aos meus desejos deixando eu amarrar ele na cama, ele permitiu, aumentei o som que tocava no quarto e sussurrei nos seus ouvidos.

- Me conte quem era a Renata?

Marcedo se contorceu, tentando sair daquela situação incomoda, peguei a faca que trazia comigo, a mesma que testemunhou a morte do meu pai. Primeiro arranquei dele informações de quem era a Renata, depois sua conta bancária e por último o golpe de misericórdia, uma facada em seu coração.

Fugi do bordel sem ninguém perceber. Agora aquele senhor não iria incomodar ninguém, o que eu não sabia que quem estava no comando não era Diana, nem Erica, era uma nova personalidade, intitulada a "Chefe".

Renata era uma traficante de drogas famosa na cidade, o motel servia somente para ela ficar distante dos que a rodeava, guardava algumas drogas com ela naquele quarto de motel, sua vida era muito confortável, tinha uma bela mansão que foi confiscada pela policia depois do seu óbito, a lista de seus clientes tinha os mais famosos nomes da cidade, Marcedo com medo entregou as informações precisa de Renata. Foi quando a " Chefe" assumiu os negócios de Renata.

Ligou para cada cliente da lista, dizendo que quem estava no comando era ela, e que tinha muita droga para vender. O que era mentira, a "Chefe" em suas mãos só contava com os pacotes que roubou de Renata. Isso e somente isso, porem a lista era sua maior arma, nela continha nomes de pessoas ligado ao trafico, convenceu os traficantes que poderia ficar no lugar de Renata, extorquia os clientes da lista, arrancando dinheiro dele e repassava aos traficantes, ganhou a confiança deles e tendo oportunidade de comprar as mercadoria, depois de seis meses, a "Chefe" tinha o controle de tudo que antes Renata tinha. Vivia uma vida de luxo, quando queria aventura Diana entrava em ação, quando precisava de planos Erica era a solução, a "Chefe" era a arquitetura do desejo de poder que eu queria ter, a rede que formei ficou melhor estruturada do que da Renata.

Um dia visitei a doutora novamente, queria matar a saudade, quando a encontrei ela estava com um homem e uma criança, estava casada, ela me avistou de longe e virou o rosto com um gesto esnobe. Nunca mais a vi, sabe, eu me pergunto - Será que quem foi usada na relação foi a Diana ou a doutora? - A doutora seria mais esperta do que subestimamos? Fiquei pensando e não cheguei a nenhuma conclusão.

Aquela vida familiar, lembro-me dos dias que minha mãe ainda estava viva, olhei para dentro de mim, não podia continuar com esse negocio de trafico, foi quando eu olhei dentro da minha consciência e o monstro que estava sendo não podia mais existir, eu era uma ovelha negra, naquele dia foi meus últimos suspiro. Cheguei em casa, arranquei da minha bolsa a faca que levava comigo a qual testemunhou tantas mortes, estava pronta para partir.

Fim.

Davi Alves
Enviado por Davi Alves em 26/04/2017
Reeditado em 17/05/2017
Código do texto: T5981915
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.