GREVE IMPOSTA

Meu primeiro impulso, ao ver as dificuldades enfrentadas por populares, diante das barreiras estratégicas dos sindicalistas, impedindo o tráfego em várias localidades do país, foi criticar mais uma iniciativa, entre milhares, que se traveste de democrática, defensora dos direitos do povo, mas atormenta esse mesmo povo que diz proteger.

Temos um governo corrupto e ilegítimo, indiscutivelmente, e uma oposição, totalmente comprometida com desmandos e mordomias, que se locupleta com o poder ou é omissa em relação a vários critérios polêmicos, como direitos especiais a determinadas categorias, salários altíssimos a políticos, funcionários públicos e magistrados, entre outros diversos itens já comentados por muitos observadores de nossa triste realidade nacional. O que não temos é gente competente, que tenha a humildade de se reconhecer serviçal do povo, que não queira entrar na política para se dar bem, que não queira dar um jeitinho de abocanhar um cargo ou honorários escusos, mesmo que garantidos por lei. Aliás, lei que proteja bandido não falta.

Nada disso, porém, justifica prejudicar mais ainda a população, principalmente os mais pobres, que dependem de transporte público para trabalhar (e querem trabalhar). Em todas as manifestações que tenho assistido, ao longo das décadas de minha existência, de um lado ao outro do ideário político, invariavelmente, os prejudicados são os cidadãos, principalmente os que mais precisam de apoio e amparo. E quem, costumeiramente, sempre provocou todas as bagunças, pretensamente legítimas, foram sindicalistas, estudantes, membros de associações remuneradas pelo poder público, funcionários públicos e participantes comissionados.

Se há espaço para uma greve geral, se o povo está descontente, que haja a marcação da data, mas que a participação seja facultativa, sem violência, sem coação. E, mesmo que consideremos o cenário político da nação um caos, o que se vê hoje é a tentativa de milhões em seguirem para seu trabalho ou compromissos, frustrada pela brutalidade dos que impedem sua passagem. O pensamento predominante é: “quem não pensa como nós merece sofrer” ou “o povo não sabe o que quer, então tem de ser tutelado por nós, que agimos por ele”. Em qualquer das hipóteses sugeridas ou por sugerir, sempre vamos encontrar a força substituindo a liberdade de escolha. Só isso tira a razão de qualquer manifestação, seja ela qual for.

Ao contrário do que possa sugerir este texto, no entanto, não pretendo me alongar em críticas aos algozes do povo (tanto os do poder, quanto os bagunceiros do contra), mas deixar claro que toda polarização que se formou entre situação e oposição, ao longo de mais de uma década, com ênfase nos últimos anos, só serviu para demonstrar que os dois lados da batalha defendem porcarias semelhantes, com leves ou sutis melhorias, salpicadas aqui e ali, sobre o cotidiano do país, mas entremeadas de carradas de facilidades, créditos e apropriações, que parecem legais, baseiam-se no mais que batido “direitos adquiridos”, mas que empobrecem o país e criam enormes desigualdades entre uma minoria privilegiada de militares, políticos, magistrados, funcionários e burocratas, e a maioria massacrante dos cidadãos, que não tem acesso a quase nenhum direito, recebe uma miséria e ainda tem de sustentar toda a corja que vive nababescamente e se cuida muito bem, nos oásis forjados pelo poder.

O principal objetivo que me guiou no desenvolvimento destas linhas foi transmitir a quem possa interessar, que a simples observação de tudo que ocorre no mundo, e em especial nesta república federativa, sem parcialismos ou contágio ideológico, mostra, claramente, que o tempo de todos os moleques está acabando. Aquela minoria silenciosa e consciente, que teve a coragem de concretizar variados projetos benfazejos, desde o início dos século vinte, lutando contra tudo e todos, que queriam proteger o próprio status e o poder estabelecido, usando toda a brandura possível e apenas impondo suas boas ações ou agüentando o tranco, cresceu e se multiplicou. Há muita gente agindo em prol do que, realmente, vale a pena, e passa longe das estripulias palhacescas de nossos toscos e mal intencionados governantes e legisladores.

Toda a violência, gritaria, associação truculenta e mancomunação tende a dar com os burros n’água em breve. Uma mudança real e efetiva esta acontecendo e se imporá em muito pouco tempo. Não será abstrata, como sonham alguns, mas bem concreta, pragmática, ousada e abrangente, pondo um ponto final na arrogância de gregos e troianos, estejam no poder ou no ataque virulento. Precisamos de paz e bons propósitos, e isso não se alcançará através de desordem, desacato, desrespeito ou destruição, mas nivelando direitos, obrigações, condições, sem privilégios, através de um completo e inédito remanejamento constitucional.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 28/04/2017
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