Dadá e Ismos existenciais/Arte

Há cem anos atrás, vivia-se a dramática realidade da primeira grande guerra mundial que eclodiu em 1914. O horror do matadouro humano como foi considerada era terror e destruição. Pensadores, artistas refugiavam-se em outros países, fugiam de suas pátrias diante da barbárie da guerra. Foi assim que no inicio do ano de 1916, na cidade de Zurich na Suiça um refugiado da guerra, o poeta e filósofo alemão Hugo Ball criava um movimento artístico, ao qual aderiram, inicialmente, artistas como Tristan Tzara, Jean Arp, entre tantos outros, o qual propugnava pelo antagonismo à hipocrisia do ideário vigente da barbárie da guerra e apologias das classes burguesas e econômicas dominantes. A contra-arte nascia a contrapor-se à falência dos valores em eclosão. Dadá, palavra primeira pronunciada por uma criança nascia emblemática para nominar o movimento, para contestar o poder da razão, contestar as análises racionais que levavam o mundo e os valores às catástofres bárbaras como os da grande guerra. Mas, Dadaísmo, embora nascido como uma reação de aversão à Arte em suas origens como dizia Tristan Tzara, trazia em seu bojo uma indagação filosófica profunda sobre a existencialidade, o paradoxo do chamado " acaso" como pedras de um jogo, jogadas casuisticamente pelo jogador ao final, acabarão revelando o próprio jogador. O Dadaísmo nascido como estado de espírito, como diria Breton, criador do Manifesto Surrealista, nascido para se contrapor a arte, destilaria muitas vertentes, entre os quais a do pintor francês Marcel Duchamp, personagem radical do movimento, criador do chamado objeto "ready made" , que procuraria com seus gestos, despersonalizar a obra de arte, a criação artística do seu criador, e sendo figura emblemática da postura conceitual e intelectual da arte moderna e contemporânea. Do bojo Dadaísta de um movimento contra´cultura, anti-arte, enfático ao acaso, o desembocar ao Surrealismo, à profunda aferição de que o inconsciente se revela na criação artística elo da obra e seu criador, ao denunciar o intrincado liame no qual os acasos tem suas sincronicidades e ismos existenciais.

Lilian Reinhardt

(Artista Plástica/Pós/Graduada em História da Arte Moderna e Contemporânea pela EMBAP/Escola de Música e Belas Artes do Paraná)