Janelas (sentido)

Um dia ela se perguntou o que fazia ali, olhando pela janela do ônibus em movimento pela cidade empoeirada, olhando o horizonte desordenado. Não queria saber o que a levara sentar naquele banco desconfortável do automóvel barulhento e nem o que a teria trazido àquela cidade, ver aquelas paisagens e sentir aqueles odores. Ela queria saber por que estava ali naquele mundo, como se outrora estivesse longe dali ou como houvesse se perdido e estivesse distante de casa. Como se acabara de acordar de um sono profundo, um pesadelo, não, um sonho confuso! Estava confusa. Não entendia. Como se acreditasse esquecer algo importante, como se a resposta estivesse na ponta de sua língua, como que se fizesse um pouco mais de força encontrasse uma explicação, talvez uma lógica. Não gostava de ter aquele sentimento, sentia-se perdida, e ela queria apenas pertencer, mas não era o caso. Sempre fora diferente, sempre a julgaram assim, não que ela quisesse ser, mas sabia que era. Só não sabia se isso era bom ou ruim. Só tinha visto a parte adversa de ser como tal, mesmo que a vida parecesse boa ou que ela procurasse o que de bom acontecia. Mas hora ou outra parava e olhava para fora, com o olhar para além do que era visível, procurando a resposta para sua pergunta. Tão menina, não entendia que não procurava respostas, procurava sentido. Mal sabia que por muito tempo não encontraria, mas saberia viver sem isto. Ou que quando achasse que sabia viver sem, aquele mundo a faria perceber que, na verdade, não havia sentido algum e que o sentido talvez fosse a falta de sentido. Que a razão de todas as coisas está na busca por uma razão. E que mesmo assim ela ainda buscaria, perto de achar, mas sempre longe de encontrar. E então voltaria sentar naquele ônibus e olhar por aquela janela.

Luna Canceriana
Enviado por Luna Canceriana em 01/05/2017
Reeditado em 09/11/2017
Código do texto: T5987031
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