Indo ao Term. Bandeira

Me sinto bem, apesar de não estar bem, eu me sinto bem. O clima está frio e eu sinto frio também, não tanto quanto dizem sentir os outros.

Entro num ônibus a caminho do centro da cidade de São Paulo, vou dar um passeio por lá, caminhar um pouco, galeria do rock, Santa Efigênia, Liberdade, lugares que gosto de ir e espairecer um pouco a cabeça, não que eu esteja saturado de qualquer coisa que não seja a vida.

Durante a viagem meu animo oscila, o simples fato de observar a paisagem em volta, já me deixa numa mistura de animo exaltado e uma leve depressão, saio do Capão Redondo, uma periferia da cidade, uma tanto feio, um tanto sujo e um outro tanto familiar, mistura comum por aqui e que sempre resulta em merda. Casas feias e amontoadas; logo estou no Campo Limpo, não muda muito a ideia, mas, ao contrario do Capão, eles tentam ser o que não são, o que é quase um requisito básico para a vida. Eu consigo ver algumas casas grandes, avaliadas em mais de um milhão, com certeza vale mais do que vários quarteirões do próprio bairro, Sorte deles.

Atravessando a João Dias e a Santo Amaro, o nível dos comércios vai evoluindo, as lojas são maiores, com mais funcionários, mais gente de cara fechada, eu me refiro aos funcionários, não aos clientes, ao menos não diretamente, tanto os vendedores, quanto os operadores de caixa, são um tipo de espelho, assim, eles não são mais do que reflexos, ou os clientes são uns filhos das putas, ou, esse titulo cabe aos patrões.

Entro na Nove de Julho, lugar grande e de gente bonita, gente que não vai ter que se preocupar com a fome e a miséria do mundo, a não ser que eles pensem da mesma forma que eu estou dizendo, daí, vão querer andar em veredas que não deveriam e vão dar de cara com as estatísticas, com uma leve dose de glamour, mas, não vão passar de números.

Já estou chegando, passo por dentro de um túnel, o ultimo antes do terminal Bandeira, na calçada da direita, quatro travestis, daquele tipo que você não se engana a noite, você sabe que são travestis; ainda não é onze da manhã e elas já estão chapadas, drogas e bebida, certamente as madrugadas por aqui devem ser difíceis, estão repartindo uma garrafa de cachaça barata, elas falam alto e dão risada; transferem o final da garrafa de vidro, para uma garrafinha de plástico, estilo barril, dava alguns goles ainda e então, a que está com a garrafa de vidro, arremessou-a na parede, fazendo ela se estilhaçar em vários pedacinhos, aquilo foi o êxtase para elas, todas gritaram e riram mais ainda. Eu sorri com aquilo.

Acho que no momento, somente naquele momento, aquelas quatro travestis eram as únicas pessoas felizes.

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 10/05/2017
Reeditado em 22/09/2020
Código do texto: T5995395
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