Gargalhadas de tristeza

Teimamos às vezes em dizer o que é melhor para os outros. E nos esquecemos de pensar no que é melhor pra gente. Ninguém precisa de nada porque basicamente tem condição de encontrar quase tudo. Desde que em condições normais. Exceto, é claro, os casos de degenerações neurológicas, fisiológicas, paralisias, etc.

Talvez a gente não encontre mais coisas, na certeza de que não podemos encontrar tudo, porque não fomos estimulados a encontra-las desde cedo.

Deveríamos ter aprendido a empacotar nossos brinquedos. A não deixa-los espalhados. Como aprendemos a escovar os dentes. Ter aprendido a não querer ganhar sempre uma corrida. Até porque o primeiro lugar nem sempre é tudo. E as medalhas que colecionamos não vão servir pra nada depois. Não farão o menor sentido quando forem mostradas a pessoas mais jovens. Ou mesmo mais velhas. Vão perguntar, sem nos dizer, “Pra que que esse cara tá guardando tudo isso?”

Ontem morreram a mãe e o seu filho num acidente de carro que eles não provocaram. O carro deles foi abalroado por um dos carros participantes de um “péga”. Cujo condutor, é claro, nada ou pouco sofreu. E as autoridades insistindo em desenvolver instrumentos eletrônicos de aferição da velocidade cada vez mais aperfeiçoados para serem colocados nas estradas e logradouros. Esquecendo-se de que as pessoas deviam aprender a não correr tanto ou a não ganhar sempre desde quando aprenderam a escovar os dentes. Instrumentos eletrônicos não educam ninguém.

Uma coisa que nos comove tremendamente, a ponto de estourarmos de gargalhadas de tristeza, é o fato de sabermos que já tivemos trens neste país, de apreciável grandeza territorial, e agora não temos. Como puderam fazer isso? Como puderam conceber um Plano de Erradicação da nossa malha ferroviária? Condição sine qua non em qualquer país continental. Até em Cuba há trem. Se não funciona convenientemente, deve-se isso ao bloqueio econômico dos que não admitem que um país do Terceiro Mundo possa caminhar sozinho.

Também era assunto para ser discutido e fazer parte do nosso aprendizado desde quando aprendemos a escovar os dentes. Era só colocar vários sapatos uns atrás dos outros e batiza-los de vagões onde poderiam ser transportados pessoas ou materiais com maior rapidez porque não teriam a interferência das estradas e seus carros. Em muitos casos, como em todo o mundo, as estradas de ferro correm paralelas às rodovias. Teríamos perfeitas condições de entender isso.

Mas nossos adultos ficaram palitando os dentes enquanto nos ensinaram apenas a escovar os nossos.

Rio, 01/05/2017

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 11/05/2017
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