VIAGEM INESQUECIVEL

Fazendo-me valer da memória, revivo cada viagem que fiz. Antes com meus pais. Primeira vez que viajei de avião, primeira vez que conheci o pantanal, o trem da morte, passando fome no Paraguai, ponte das 7 quedas (que estivemos 1 semana antes do acidente), selva amazônica, nordeste, sudeste, sul, e norte. Muito passeio em família!

Depois me casei e começamos novo estilo de viagens. Hotel fazenda, interior de São Paulo, interior de Minas, Águas Quentes…

Nasceu o filho e veio o estilo praia. Guarujá, Bertioga, Maceio, Porto Seguro, Natal…

Separação/divórcio, e apareceu o estilo Europa, Áustria, Itália, Espanha…

Novo namorado. Um mineirinho da gema. Nascido em Ponte Nova e criado em BH. Viajei com ele para Tiradentes e São João Del Rey, em Minas Gerais. Essa sim foi minha melhor viagem. Consagrou a nova pessoa em que me transformei.

Foi a comprovação do meu amadurecimento, da minha liberdade, da retomada da minha vida e da auto estima. Ahhhhh!!!!! Que delícia! Nada melhor do que estar em paz com a gente mesmo. Nada de família, marido, filhos…

Não existe nada mais afrodisíaco do que viajar apaixonada. Tudo é belo, quando nossos olhos estão floridos.

O dia é ensolarado, mesmo com chuva. As tardes são aurora boreal. As noites, uma criança.

Tudo é maravilhoso quando o coração está aquecido.

Tiradentes nos remete aos anos dourados. São João Del Rey a um Tancredo Neves que poderia ter mudado o Brasil.

Todo cantinho tem glamour, sofisticação e simplicidade. Todos os opostos ao mesmo tempo.

Chão de pedra, tijolos de barro, portas imensas, janelas de madeira maciça.

Quantas moças não se debruçaram naquelas janelas, à espera do homem amado passar. Quantos chapéus não foram tirados para cumprimentá-las. Quanto cheiro de feijão apurando no fogão a lenha. Quantos bordados intermináveis nas calçadas. Serestas à noite e perfume de café na madrugada do amanhecer.

Quantas vidas vividas. Quantas mortes morridas.

Passamos pelas ruelas, voltando a um passado nunca vivido. Reconhecido pela literatura e pela história.

Escravos, donos de engenho, coronéis. Passado, não muito remoto, mas, distante anos-luz da tecnologia, que assola o romantismo.

Ah! Que saudade do não presenciado. Que vontade de ter uma máquina do tempo, para vivenciar aqueles anos. Tempo verdadeiro. Tempo em que o tempo não corria. Tempo que a vida passava em câmera lenta.

É isso! Por isso foi minha viagem inesquecível. Quatro dias que levaram quatro anos para passar. Estava em slow-motion. Tudo era deliciosamente saboreado.

Quatro dias que pareceram quatro horas, quando acabou.

De volta à rotina, à pressa, à tecnologia, ao trânsito…

Mas ficou sabor de quero mais. Da lentidão. Da sonolência. Da certeza que não sou mais a mesma. Da comprovação do que me transformei.

Felicidade existe e paixão não tem idade.

Cristina Verducci