Os morros e os presentes

Há um tempo, perdi uma “virgindade” minha:

Escalei um morro perto da capital mineira (e isso é algo que tem muito aqui), e a experiência, para variar como muitas coisas que vejo em minha vida, trouxe-me a reflexões.

Nessa escalada estava só eu de moça. Tinha três rapazes comigo, que conheci de grupos de trilha.

Eu não entendia nada de escalada, de acessórios, então pularei essa parte para o que interessa.

O morro que subíamos era bem íngreme. Foi puxado, exaustivo. A única coisa que passava na minha mente era o quanto eu precisava alcançar o meu objetivo, aquele topo, para mostrar a mim mesma de como era capaz.

Aí ouvi meu nome. Três vezes.

Um dos rapazes, Rafael, me chamou para falar que logo naquele morro, tinha um espaço em que era possível sentarmos. Que íamos parar.

Na hora fiquei louca. Com raiva. Ninguém perguntou a minha opinião se eu estava cansada, se eu queria parar. Mesmo com a dificuldade, dava tranquilamente para continuarmos.

Mas eu estava dependente neste dia. Do grupo. E quando chegamos no espaço mencionado, todos se apoiaram na pedra que ali tinha e ficaram um pouco sentados.

Comecei a olhar para baixo. Não tenho aflição. Era até bom e admirável o quanto já tínhamos ido, e eu olhava depois para cima, de forma cautelosa, para ver o quanto faltava.

Rafael mais uma vez me chama.

“Por que olha tanto para cima e para baixo?”

Falei para ele este meu pensamento. Ele disse:

“Bacana. Mas então por que não aproveita e olha para sua frente? Isso é o que você conquistou”.

O sol devia estar entre às 15h30, quase 16h. Começava a abaixar para o entardecer. O que vi era indescritível: coisa que beleza de Minas proporciona.

Foi então que me atentei: estava preocupava demais em olhar o que deixei para trás, e o que podia alcançar a frente, mas não olhava o meu agora, o meu presente, o que estava comigo naquele momento.

Rafael virou o rosto para mim, e olhando disse só mais uma coisa, antes de continuarmos:

“Às vezes é necessário parar. Restaurar para depois seguir em frente. Lá em baixo, tá lá em baixo. Lá em cima, está lá em cima. Veja o que tem agora. É bonito do mesmo jeito.”

E realmente, era lindo. E ao continuar o meu restante do caminho, fui com foco em alcançar, mas sem perder o olhar na beleza de cada passo.

Às vezes é necessário parar e ser grato ao que já é.

Haja autoconhecimento.