OLHA O BRUCUTU !


Pensem num sujeito calmo,tranquilo,que não se estressa por nada.
Êsse é o "Nêne",meu primo,com uma diferença de uns dez anos a mais em relação à minha idade.
O "Nêne da tia Elzi" ou "Nêne do tio Jeca",variando de conformidade com o primeiro a ser lembrado,é assim que a família inteira o denomina.
Seu verdadeiro nome só fui conhecer durante o velório de um ente querido,naquelas ocasiões em que invariavelmente o parentesco todo acaba se reunindo e aproveitando para colocar os assuntos e fofocas em dia.
Estávamos num grupo de primos,incluindo êle: O Nêne...Da tia Elzi,ou do tio Jeca,não necessariamente nesta mesma ordem...rs...Um dos primos levanta a questão:
_Afinal...Oh! Nêne,como é mesmo o seu nome?
O... calmíssimo,tranquilíssimo,desestressadíssimo,pensa,esboça uma rizadinha vagarosa e faz um teatrinho antes de responder.
Seu irmão mais novo, também integrante do grupo,sai na frente e num tom irônico e gozador,quase dando um nó na língua,responde:
_Êle é o "Willllllsson!!!...", Wilssinho da tia Elzi!
Apesar do local e o momento totalmente improprios,foi impossível conter as gargalhadas,sobretudo,após o temperinho adicionado por um outro primo,no melhor estilo Jô Soares:
_Ah!...Tio Wilsson,o da salsicha!.... kkkkk....
Bem,agora que o ilustre lhes foi apresentado,eis aqui algumas de suas particularidades :
Êle fala pouco,porém,quando articula suas cordas vocais,o faz com requinte e até piadinhas das mais "sem vergonha" tornam-se engraçadíssimas em sua narração.
É criativo e extremamente romântico.Por ocasião do falecimento de sua espôsa,ao invés daquelas tradicionais "lembranças" com dizeres pré elaborados que se distribuem aos amigos na missa do sétimo dia,êle escolheu uma foto do casal num salão de baile,criou um texto revivendo o amor que os unia e falando de sua saudade e o vazio da ausência ,enviou aos amigos e parentes.
Obviamente;com aquela sua calma,tão peculiar,a lembrança chegou-me depois de decorridos pouco mais de dois anos do passamento.
Maaasss!!!...Independente dêste seu lado,"ligeiramente distraído",há que se louvar o seu extremado romantismo.
Nas muitas vezes em que fomos visita-lo,saíamos nas manhãs de domingo,de Irati "a Pérola do Sul" e com pouco mais de l:45 minutos estávamos em Ponta Grossa, "a Princesa dos Campos" (aí eu pergunto:Existirá algo mais romântico e poético que as denominações de nossas cidades?)
Aportávamos ao endereço da rua Francisco Otaviano,casa da saudosa tia Elzi,e a primeira pessoa de quem lembrávamos era o "Nêne".
Depois do papo colocado em dia ,uns moderados "goles",vinha a inevitável xeretada básica na discoteca do Nêne.
O romântico detinha (creio que ainda a detenha) uma coleção completa dos discos do Roberto Carlos,cuidadosamente guardados e dividindo espaços com Altemar Dutra,Moacir Franco,Elis,Agnaldos...(Rayol e Timóteo,aquêle!...) dentre tantos outros.
Nos anos 60 ouvíamos o Rei na sua radiola "RCA Victor",aquela do galinho,cujo formato assemelhava-se à uma cômoda .
Nos anos 70,o distinto evoluiu para as moderníssimas (?) radionetes,e na sequência para os "Micro systen" e o escambau...
Mostrava-se feliz com o nosso assédio à sua bem cuidada coleção,a qual colocava à nossa inteira disposição,dêsde que a primeira música,do rei,evidentemente,fôsse aquela de sua escolha.
Até hoje,confesso que não entendi.Foram noites e noites insones na busca da explicação que nunca veio.
Nêne,ou Willllsson,da tia ou do tio...Eis a pergunta que não quer calar:
Porque,sendo você um sujeito tão romântico,dono de uma coleção das mais românticas melodias,tinha de escolher sempre a mesma música para abrir a seção?
Lateja-me ainda aos ouvidos aquela coisa:
"Olha o Brucutu!... Bru...Cu...Tu!"

Joel Gomes  Teixeira
CLIC NO LINK ABAIXO PARA OUVIR:
https://www.youtube.com/watch?v=h85QXa06XA4


Texto  reeditado.
Preservados oscomentários ao texto  anterior:




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25/06/2010 14:56 - RobertoRego
Joel, saudosas reminiscências, meu amigo. Tipos como esse seu primo sempre dão mote pra muitas histórias. Valeu, poeta, parabéns e abraço forte.


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19/06/2010 09:29 - Dante Marcucci
Bela cronica, amigo. Sempre muito bem escrita. Quanto ao BRUCUTU, tem gosto pra tudo...Um abraço


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18/06/2010 21:04 - Malgaxe
KKKKKKKKKKK, eu as vezes gosto de uma musica uns tempos e depois outra e outra, apesar de romantico tal qual o nêne. Radiola, conheci algumas mas ja fora de atividade na eletronica, radionete, rsrsrsrsrs, eu cheguei a colocar uns vinis(assim que escreve?), pra tocar, Microsistem, opa, conheci muito bem, agora escambau, não lembro não, rsrsrsrsrsrsrsrsrs. Brincadeira, parabéns pelo texto, meu amigo. Grande abraço


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12/06/2010 23:08 -
Quando alguém toca em nomes de lugares onde estive, ganha ele a minha simpatia. Você falou na Pricesa dos Campos, Ponta Grossa, onde estive em 1956! É mole! Na casa dos Petrobelli... Gostei demais. Seu texto, hoje, é o meu amanhã, depois de aprender com você!!!Abraços


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12/06/2010 23:01 - Giustina
Eu fico a cada dia mais admirada das tuas mémórias, Joel. E encantada pela maneira com que as coloca no papel (ou no computador...rsrsr). É impressionante a facilidade com que discorres as coisas do teu cotidiano, com ternura e saudade! Parabéns por esse dom que tem o poder de nos encantar sempre. Beijão.


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12/06/2010 22:54 - Lisyt
Joel, sua prosa, poética ou não, é uma delicia! Que personagem insólito este seu primo... rs


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11/06/2010 20:06 - Mirtes CASSIA
Pois é, essa história de apelidar os bruguelos de nenê, pega mesmo, e quando crescem fica difícil saber o verdadeiro nome. Uma outra coisa que me chamou a atenção nessa crõnica foi a peculiar visita à família, coisa que hoje, acho, anda fora de moda. Belíssima narrativa, poeta e grata pela sua visita a minha escrivaninha. Abçs.


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11/06/2010 09:10 - josé cláudio Cacá
Esta é a parte que mais me encanta num prosador feito você, Joel: a observação silenciosa das idiossincrasias humanas depois transformadas em contos e crônicas maravilhosas. Abraço grande, meu caro amigo! Paz e bem.


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10/06/2010 12:30 - Layara
rsrs. Vai ver que ele era bem humorado como disse a Anita e quisesse provocar vocês.Só sei que mais uma vez saio de sua página com a alma leve. Grande contador de histórias tu és! meu abraço


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10/06/2010 00:07 - Anita D Cambuim
rs... Wilson da salsicha! kkkkkk. Todo mundo tem o seu lado estranho. Que mania a gente tem de querer desvendar os gostos alheios!...rs... Boa crônica. Deliciosa forma de terminar o dia: lendo você. Boa noite e até amanhã.


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09/06/2010 18:50 - Maria Iaci
Taí, gostei do seu primo, filho da tia ou do tio. A escolha dessa música, presumo, denota um excelente senso de humor. É divertidíssima! Rapaz, durante a leitura inteirinha eu ficava me perguntando: e onde é que o Brucutu entra nessa história? Brilhantemente, você deixou pro final. Vai ver o Brucutu era uma espécie de alter ego do seu romântico primo, não seria isso? Um beijo na testa. :)


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08/06/2010 22:46 - Maria Olimpia Alves de Melo
Esse seu primo é mesmo uma incógnita.