A produção artística

Sou um apreciador nato de diferentes formas de produção artística, embora algumas me soem tediosas e inexpressivas. A arte é uma das ferramentas que me move, que me instiga e que busco consumir impiedosamente nos andares da minha existência. Aprecio simplesmente pela sua produção, não necessariamente pela qualidade daquilo que está sendo construído. Circulo pelo cinema, pela música, pelo teatro, pela poesia, pela escrita e pela fotografia. Também sou afeito pela arte de contar histórias. Ouço-as pacientemente quando me soam interessantes. Crio mundos e existências, pensamentos, vivências e personagens. Todos meus. Eles povoam minha caixa de ferramentas.

Nos dias que findaram este final de semana chuvoso, encontrei-me com produções artísticas que me deixaram inquieto e pensativo. Assisti, novamente, o filme “Escritores da Liberdade”, que traz à tona a importância da educação como dispositivo contra o racismo, o preconceito e a capacidade de produzir uma nova existência. Ainda, assisti a outro filme, não menos importante, que trata do racismo e seus efeitos sobre a população negra norte-americana. Em “Eu não sou seu negro”, evidenciamos a importância da luta militante para minimizar as inúmeras opressões que grupos vulneráveis sofrem no cotidiano dos dias. Além do mais, segui na minha leitura sabática do livro “História da vida privada”, que tem me conduzido a uma nova percepção das relações sociais historicamente construídas na contemporaneidade.

Por fim, no sábado à noite, sob o frio, a chuva, a música, os amigos, a contação de histórias, a cerveja e vários hambúrgueres, adquiri três quadros pintados pelo meu amigo Douglas. Dozinho, como é usualmente chamado (deve ser uma metáfora pela sua estatura reduzida), tem expressado sua arte em tela em um colorido absurdamente vivaz, criativo, com formas que mesclam o realismo e o expressionismo abstrato. Cria personagens corriqueiros – o hippie, a coruja, a terra, a lua – que nos fazem reinventar a vida, produzir sentidos em uma era vazia, evocar nossos olhares ao estranhamento que a imagem produz. Dozinho faz uma arte grandiosa, milimetricamente pensada. Produz um estilo próprio e pós-moderno. Dozinho é bicho-grilo. Dozinho é o cara.