Jogando conversa fora

Nem preciso dizer que adoro conversar e não acho difícil falar sobre tudo e coisa nenhuma. Ouvir e contar.

Os relacionamentos dão ótimas conversas. Não assim no estilo fofoca, mas como uma experiência bem vivida ou um fato surpreendente que aconteceu com um amigo de amigo distante.

Domingo vai, domingo vem, e minha sogra almoça na minha casa, dando alguns intervalos para não ficar sem assunto. Demoramos na mesa saboreando a segunda taça de vinho e conversando. Eu adoro que me contem tudo em detalhes e ela é especialista nisso.

Um domingo destes, ela contou que um tio lá no interior, foi muito apaixonado por uma moça chamada Dinorá. Ela era linda, suave. Depois do noivado passou a colaborar muito com a sogra, quase vivendo na casa deles. A Dinorá era como uma governanta, administrava a casa com desenvoltura e humildade. Boa ouvinte e confidente. Morena dos cabelos negros e olhos de jabuticaba.

Quase antes do casamento, Dinorá sentiu fortes dores no seio esquerdo e o diagnóstico foi fatal. Ela morreu de câncer, dois anos depois. Foi enterrada no panteão da família dela, no meio do campo, perto das figueiras.

O tio conheceu outras moças, namorou e escolheu. Casou, teve filhos e netos. Morreu aos noventa anos, deixando a viúva com um último pedido – queria ser enterrado ao lado da Dinorá.

O que fazer em um momento destes?

A esposa não decidiu.

Os filhos não permitiram, também, nem conheceram a Dinorá.

Mas de nada adiantou, pois dizem por lá, que já viram muitas vezes um vulto, nas figueiras, perto da Dinorá.

Ana Mello
Enviado por Ana Mello em 10/08/2007
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