PÓS-VERDADE

A Era da Pós-Verdade... É o Império da doxa, o triunfo da ideologia, do sofisma, da retórica pseudo-intelectual em detrimento dos fatos...Ora, mas o que são fatos senão construções sociais de disputas políticas? Nada mais nada menos. Que lua há no céu senão aquela que construímos socialmente? Quantas luas há no céu senão aquelas tantas que os partidos vencedores nos contam lá estar? Verdade? Quem precisa dessa cafonice? O que há de se falar em physis? Quem ainda se dobra diante o trono do real? É a Era da pós-natureza, a Era da pós-razão. Todos são especialistas em tudo, e a rede social é a Ágora suprema por onde os novos sábios, exaltados, condenam ou absolvem com o mesmo cuidado com que descascam bananas. E parece que no ranking dos países com maior índice de pensamento ultra-relativista em que a verdade de cada um engrossa o rio da pós-verdade de todos, o Brasil está nas primeiras posições. Foi legal ou não foi legal? Foi moral ou não foi moral? O que importa se não há fatos, mas apenas discursos, e discursos não são nem mais ou menos verdadeiros, mas tão somente convincentes ou grandiloquentes? É que a pós-verdade é cômoda, conveniente, utilitarista, ao passo que a verdade é dura, pode ser inconveniente e não se dobrar a quaisquer interesses. Lembro de Duhem: "E como aqueles que anseiam pelo útil, e não pelo verdadeiro, poderiam suportar tão rigorosa disciplina?". Pensar dá trabalho. A pós-verdade é o feriado prolongado da razão.