REFERENDUM

Nos meus pequenos rasgos de egocentrismo sinto inveja do primeiro inquilino do Éden: Adão.

Certamente não houve plágio, nem influência de qualquer artista, na fala, música, pintura em tela, obra literária, ou outra manifestação artística promovida por Adão. Saber que os louros podiam ser depositados em sua cabeça sem o temor de uma escolha injusta ou imerecida, é fabuloso. Como não poderia deixar de ser, foi recompensado. Teve como prêmio a saradíssima Eva. Aliás, Eva deveria ser para Adão um tremendo pitéu. A história não registra que Adão tenha chegado em casa altas horas, trançando as pernas, embriagado, com braguilha aberta, cueca suja de batom, se desculpando que ficou trabalhando no escritório até mais tarde. Na realidade, até onde sabemos, Adão não possuía olhos para outra mulher. Eva era para ele insubstituível. Era a única, literalmente.

Sobre Adão eu já ouvi falar alguma coisa. Agora sobre o autor da piadinha que vou descrever nem mesmo o nome eu sei! Portanto, não poderei dar-lhe o merecido crédito, mas esteja ele onde estiver quero que saiba que gostei muito do seu humor. Acrescentei uma ou outra coisinha nessa piada e nunca perco a oportunidade de contá-la sempre que faço uma palestra e o assunto segue para o tema mudanças.

Trata-se do encontro de dois empoados ingleses, John e Peter. Odiavam-se. John ao ver seu arquiinimigo, aproximou-se e falou àquele que tivera um sonho.

— Peter, sonhei com você! Nesse sonho você havia morrido. Fui ao cemitério fazer-lhe uma visita. Ao aproximar-me de onde você havia sido sepultado avistei uma vaquinha malhada que pastava por ali. De repente essa vaquinha dirigiu-se sob sua sepultura, colocou os óculos, apanhou um jornal e com ar intelectual dobrou levemente as patas traseiras, fez ainda aquela expressão facial que dirime qualquer dúvida do que vem a seguir, deu um leve gemidinho e calmamente fez uns depósitos sobre a sua sepultura. Ao escutar aqueles, Ploft... Ploft...Ploft, não me contive e exclamei em alta voz: “Peter, oh Peter, como você mudou!”

— Oh John! Que fantástica coincidência onírica. Também sonhei a mesma coisa com você. Que você tinha morrido, e que uma vaquinha malhada também fez um depósito fecal sobre a sua sepultura: Ploft...Ploft...Ploft. Ao ver aquilo, também não me contive e disse em alto e bom som: “John, oh John! Você não mudou nada!”

Ao falar em “não mudou nada”, imediatamente veio à minha cabeça a questão do desarmamento.

Não seria para nossa precária força policial uma sobrecarga tremenda no aumento das demandas das futuras ocorrências que diuturnamente serão clamadas, na hipótese da vitória do desarmamento?

Vimos em constantes e recentes imagens na TV aparecerem marginais fazendo uso indevido de drogas nas favelas do Rio, portando acintosamente todo aquele aparato bélico, e ninguém consegue resolver este ignóbil processo mórbido. Será que a polícia vai esperar o resultado do referendo sobre o desarmamento para subir os morros cariocas e acabar com o carnaval belicista desses marginais deslumbrados? E os “foliões armados e desajustados” de outras capitais?

A origem da violência urbana ou doméstica está em grande parte no desemprego, nas separações familiares, na corrupção e numa numerosa série de conflitos sociais que ocorrem gerados por uma praga conhecida por todo mundo. Esta chaga social é a prática do USO INDEVIDO e/ou ABUSIVO de DROGAS. E quando falamos em drogas, estamos falando de drogas lícitas (álcool, cigarro, remédio etc.) e ilícitas (maconha, craque, cocaína etc.).

A questão não será resolvida enquanto não houver um mutirão social, no qual haja engajamento do governo e da nação para que exista uma explosão de:

a) INFORMAÇÃO em todos os veículos de comunicação como se fosse uma propaganda de droga, sem uso moderado;

b) EDUCAÇÃO (no mínimo exemplar) em casa e na escola;

c) PREVENÇÃO nos três níveis;

d) FISCALIZAÇÃO eficiente, principalmente ao redor de colégios e faculdades;

e) REPRESSÃO por agentes qualificados;

f) DISQUE DENÚNCIA –181 com máxima eficiência;

g) PARCERIAS GOVERNO/ENTIDADES com profissionais técnicos em dependência química;

h) COMADs (Conselhos Municipais Antidrogas) com desinteresse político/partidário.

Após ter dito o que todo mundo sabe, sem ter que recorrer as profecias de Nostradamus, e como um apaixonado por Curitiba e pelo meu Brasil, sinto muito pela execução de um referendo que só servirá para tomar do caixa de nosso país umas “merrecas” a mais. Portanto, do jeitão que a música está sendo orquestrada, pode desarmar quem quer que seja que o resultado final será idêntico ao da vaquinha malhada, PLOFT!…PLOFT!...PLOFT!

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*Luiz Celso de Matos é Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos.

E-mail: andrausdematos@yahoo.com.br

30/9/2005 23:33:13.

Luiz Celso de Matos
Enviado por Luiz Celso de Matos em 16/10/2005
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