Fim
O fim, coitado, é injustiçado, ignorado e, por muitas vezes, acusado de crimes que não cometeu. O fim leva uma culpa que não é dele. Um clichê verdadeiro: O tempo só anda para frente e não percebemos isso. Ocupados com o futuro, esquecemo-nos de apreciar a paisagem. O fim chega, chega no tempo certo e nos pega desprevenidos, com um armário cheio de planos e palavras que foram adiadas, pois ouvimos a voz da nossa vaidade nos dizendo eternidades. O fim é gentil e muito educado, mas nós o odiamos sempre.
O fim não avisa quando vem visitar, mas sempre traz um presente. Há um bonito embrulho em cima da mesa, um delicado presente chamado recomeço. Não demore muito para abri-lo. É só quando paramos de contemplar as ruínas que as boas lembranças nascem e, então, ganhamos a permissão para chorar uma saudade recém-nascida.
Recomeçar é ter um renovo da vida. Hoje olhando esse recomeço nos olhos eu me sinto mais jovem e o espelho balança a cabeça com todo entusiasmo.
O que resta depois do fim?
Não resta nada.
Não falta nada.
Eu vivo
Cada vez mais inteira.