Alfabetização do silêncio

Pós-Modernidade: tempo onde tudo é postado, comentado e compartilhado. Estamos conectados o dia todo, todas as horas, minutos e segundos, ainda cobramos isso dos outros. Somos atropelados por informações, gente que diz que pode nos influenciar digitalmente, pratos divinos, o casal perfeito, os textos sobre relacionamento, elogios sem criatividade, viagens, selfies, vídeos engraçados e por aí vai... Sei que estou presa nesse barulho todo e sei, também, que não estou sozinha. Resolvi, de uns tempos para cá, aprender o silêncio. No universo onde o mistério não tem mais valor, onde nos tornamos íntimos de pessoas que não sabem o timbre da nossa voz, desaprendemos o som do silêncio. Decidi retornar ao primeiro estágio, me matricular na turma de alfabetização do silêncio, me perder um pouco em mim mesma.

Não estou fazendo política contra. Eu amo a possibilidade das redes sociais como o espaço para novos artistas, o debate e o encontro de pessoas com interesses em comum. Mas, toda moeda tem seus dois lados, existe o ônus, a fixação pelas curtidas e visualizações, uma busca pela formula do sucesso. Existe uma falsificação de momentos felizes e de uma vida “perfeita” e uma idolatria estranha. Existe um certo materialismo onde parecer é mais importante do que ser e, então, a diversidade linda vira uma padronização enlatada. Os seres humanos têm essa mania, o mal aproveitamento de uma ferramenta maravilhosa.

Na alfabetização pelo silêncio, certas perguntas me invadiram: Quantas coisas eu faço sem publicar? Quantas coisas eu faço por mim? Quantas vezes eu me cobrei quando fiquei mais de dois dias sem postar nada? Quantas fotos eu postei só para parecer interessante? Quantas selfies com sorriso no rosto e coração vazio? Aprender a ser um pouco mais de silêncio e descobrir ser apenas eu. Tive que aprender a compensar essa balança, a usar a ferramenta de forma correta.

No silêncio, eu percebi como o mundo é lindo e imenso. No silêncio eu aprendi que as relações não são sintéticas. No silêncio aprendi que o tempo passa mais devagar e tudo acontece dentro de nós.

Jéssica Albernaz
Enviado por Jéssica Albernaz em 16/06/2017
Reeditado em 16/06/2017
Código do texto: T6028892
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.