Maria Fumaça
 
Um trem há de sempre aguçar a imaginação das crianças, dos artistas e até dos menos sensíveis. Ele percorre distâncias. Ele, com seus atritos de metal, suscitam onomatopeias, vara brumas, vegetação, percorre paisagens diminuindo solidões com sua passagem. O trem se impõe.
 
O trem inaugurou novo tipo de modo de produção humana: a industrialização.
 
O novo meio de transporte impressionou sobremaneira a admiração de pintores românticos. Foi o caso de  William Turner com seu Chuva, Vapor e Velocidade - O Grande Caminho de Ferro do Oeste, ou
Rain, Steam and Speed - The Great Western Railway.
 
Na década de 70 a marca de brinquedos Estrela lançaria as versões da máquina para crianças. Tornou-se febre para aqueles que podiam pagar pelo luxo de montar a sua ferrovia lúdica.
 
O trem recebeu vários nomes próprios conforme o regionalismo de onde passou a fazer parte da paisagem e economia local. No Campo das Vertentes em Minas, por soltar muita fumaça pela chaminé, foi denominado carinhosamente e ao mesmo tempo com desdém de Maria Fumaça.
 
A Maria Fumaça atendia a interesses econômicos transportando mercadorias e passageiros. Tendo sido suplantado por outros meios mais capazes terminou servindo aos interesses turísticos.
 
Um dos primeiros relatos de que eu ouvi sobre a magia turística da Maria Fumaça foi na adolescência  contado pela minha professora de História. Ela narrava o passeio feito com sua turma do curso de História da faculdade local. De forma lúdica usaram trajes  reportando à indumentárias  de damas e cavalheiros antigos. Na época o trem, a Maria Fumaça, fazia o trajeto de Antônio Carlos à cidade de São João Del Rei. Isto imprimiu em minha imaginação uma curiosidade enorme.
 
Posteriormente eu teria a oportunidade de realizar tal excursão em dois momentos na década de 80. A primeira vez foi com minha família em que irmãos e consortes, mãe e sobrinhos saímos naquela tarde de sábado inesquecível para realizar o feito. Outra vez fui eu e namorada compartilhando momentos de alegria e alimentando sentimentos com belezas da paisagem.
 
O passeio foi de momentos inesquecíveis e  em boa linguagem de mineiro um “trem bão, uai!”

Eu saudosista?! Não! Um narrador de minhas memórias.
 
Atualmente este passeio se reduz apenas ao trajeto que liga as cidades históricas de São João Del-Rei a Tiradentes percorrendo 12 km em 50 minutos. Em São João Del-Rei, na estação ferroviária há o Museu Ferroviário inaugurado em 1981 – ano do centenário da Estrada de Ferro Oeste de Minas.
 
Em Barbacena ainda há a linha férrea para o transporte de cargas. Nas silentes madrugadas ouve-se o barulho, não mais de simpáticas marias-fumaças, mas de potentes comboios férreos rompendo o silêncio e servindo a imaginação e inspiração. Se a Maria Fumaça serviu-me para a crônica, o trem serve-me para o poema:

O Trem da Madrugada
 
o Trem é pontual / em todo ponto certo / da madrugada Ele vem
vem pronto / com seu tran-tran-tran / trazendo sonho / trancando saudade / trazendo a hora / trancando desordem / trazendo pensamento / trancando pontualidade
tran-tran-tran
Ele passa pronto / em cada ponto / da madrugada / são tantos, são todos / são tontos devaneios / todos os seus vagões
ouve-se o Trem / passar ao longe / na férrea linha
o Trem faz o poema / que aqui o verso / desversa a valsa / nesta poesia falsa
tran-tran-tran
única nota em rima / que o Trem conhece /e o ferro obedece
o Trem da madrugada / não apita o seu “piuí”. / Assovia o se atrito:
Roda – Rodela – Rodeio
na linha férrea.


 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 13/06/2017
   
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 17/06/2017
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