DE SAPOS E ESCORPIÕES

Um escorpião aproximou-se de um sapo que estava à beira do rio e pediu ajuda para atravessar, subindo em suas costas. O sapo dispôs-se a prestar tal favor.

Confiando no aracnídeo o sapo deixa que ele lhe suba e põe-se a nadar em direção a outra margem. Próximos a chegar, os dois, à beira do rio o escorpião pica o indefeso sapo. Imobilizado pelo efeito do veneno o sapo volta-se para o escorpião e pergunta a razão de seu ato, visto que ambos iriam morrer nas profundezas do rio. O escorpião responde:

- Sou um escorpião, esta é a minha natureza.

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A maioria das pessoas no mundo são sapos.

De uma forma ou de outra todas têm à disposição em seu íntimo de prestar ajuda ao seu semelhante, de ser solidário. Nós brasileiros mais ainda.

É o transeunte que dá informações ao indivíduo perdido em uma rua qualquer, é o jovem que presta gentilezas ao idoso, é a senhora que doa alguma peça de roupa usada em campanhas do agasalho, são os milhares de voluntários que dispõem de algumas horas por semana em algum trabalho comunitário.

Pode parecer estranho, mas no mundo existem mais pessoas boas do que ruins, e mesmo as poucas ruins, não são de todo ruins.

Mas no meio destes, ainda persistem alguns escorpiões pedindo ajuda para atravessar algum rio qualquer. Quanto a sua natureza? Bem, o escorpião, o bicho, age seguindo seus instintos, permitem-se manifestar-se obedecendo aos seus impulsos ancestrais, num complicado reflexo de defesa que ataca sem saber o porquê, mas que lhe vem garantindo a sobrevivência. Não lhes tem domínio e nem arbítrio de suas atitudes.

Diferentemente das pessoas, que sabendo distinguir o certo do errado, o justo do injusto ainda optam por picar aqueles que lhe garantem a travessia acreditando que terão vantagens (entre aspas) pela sua inteligência aguçada e esperteza.

A história não conta, mas na fábula o veneno não tirou a vida do sapo, apenas adormecendo seus músculos, imobilizou-o, e por ser sapo, afeito as lides aquáticas, adaptado que era a falta de oxigênio, após alguns breves momentos recuperou seus movimentos e saiu nadando do fundo do rio.

Quanto ao escorpião? Este sim perdeu a vida.

O homem escorpião raramente perde a vida, visto que aparentemente sempre se safa dos seus dolos, mas com certeza sai do fundo do rio com um pouco menos de dignidade e consideração. Mas para ele pouco importa esta perda, ele é um escorpião, essas qualidades nunca fizeram parte de sua natureza.