*Viajando*

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Tremi quando ouvi a música.

Acho que tocou umas cinco vezes seguidas enquanto o ônibus escorregava pela estrada que me levava serra abaixo, num daqueles dias de março, quando o outono quer começar e o corpo não quer que o verão parta.

Ah...eu me lembrei de você dizendo coisas que até Deus duvidaria!

Sorri sozinha, olhando para fora.

Nevoeiro não me deixava ver a beleza da serra, o azulado manto que parece cobrir a mata naquela época do ano. Sorri de novo.

A natureza precisa de cores para se comunicar ou se comunica através das cores?

E a música nos meus ouvidos fazia explodir a saudade de você.

E por onde poderia estar errando, naquele momento, meu senhor de amores tantos?

Erraria pelo deserto da própria sala, acreditando divertir-se com um programa de tevê?

Erraria fumando um cigarro em rápidas tragadas e estranhas baforadas, olhando para a garoa de uma tarde interminável da cidade que entra em casa para não “apanhar resfriado”?

Sorri de novo.

E a música estava ali, me agitando o coração que, trêmulo, desejava que você não errasse mais e estivesse simplesmente na ponta de meu destino... à espera daquele ônibus que me levava para perto, bem perto, do mar.

Fechei os olhos.

Nevoeiro intenso fechava todo meu campo de visão e eu sabia que o motorista se guiava pelas faixas centrais da rodovia.

Nada havia além da música e do som surdo do motor.

Serra do Mar.

Música de você em meus ouvidos travados pela pressão.

Para que eu diria adeus?

Você nem mesmo chegou até mim!

Quando abri os olhos, o mar já estava a um palmo do meu nariz.

E o céu nublado me avisava que eu deveria escrever sobre o cinza pelos próximos cinco dias...

Paciência. Aprendiz de viver escreve errado por linhas certas e sobre a cor que lhe for dada.

Pelo menos aprenderei uma nova canção. Sei que sim.

AglaéGil

*em 29.04.2006

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Aglaé Gil
Enviado por Aglaé Gil em 12/08/2007
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