QUARTO DOS PAIS
Maria Clara percorre o longo corredor de Taboão marrom, que encerra na porta de vidro opaco da suíte da jovem empresária. Nesse transcurso e nesse lapso de tempo, passa pela memoria da jovem um outro corredor, cujo assoalho de madeira comum e velha deixava avistar as frestas que permitiam a entrada da poeira e do frio. No final desse corredor e também de madeira simples era a porta que fechava o quarto dos pais.
À essa lembrança da infância juntam-se muitas outras lembranças, que oriundas de um passado não tão distante trazem à memória da jovem a figura dos pais e o respeito a tudo que a eles se referia.
Entre tantas memórias havia uma que mais enternecia o coração de Maria Clara: o cuidado com que os filhos tinham pelo quarto dos pais, sendo na imaginação das crianças aquele um lugar sagrado, por ser ali que os pais descansavam os corpos cansados, e ali recuperarem todas as forças para as inúmeras tarefas do dia seguinte, a criação dos filhos inclusive. A partir desse entendimento, cabia aos filhos evitar todo barulho, mantendo-se afastados da porta fechada e o silencio sendo mantido.
Hoje, Maria Clara abre a porta de sua suíte, abraça seu companheiro e lembra saudosamente de um tempo que levou junto com seus pais valores que transformaram um dia, o quarto dos pais em um santuário.