Morte...te acompanho.

E eis-me aqui, cara a cara com você neste leito de hospital, assistindo a vida que escorre pelos vãos dos dedos.

Dedos esses arroxeados pela falta da circulação do sangue, que esse coração insiste em não bombear direito.

Coração que viveu, que se alegrou, que chorou, que sofreu e que agora insiste em querer trabalhar lentamente, causando dor e sofrimento ao restante do corpo.

Corpo esquálido, onde a falta da alimentação adequada diária fez ficar imóvel, prostrado, quase inerte, à espera de que a tosse diminua e o ar retorne aos pulmões .

Pulmões dilacerados pelo uso exacerbado do cigarro por anos a fio, fingindo estar bem para numa derrocada causar a falência de tudo, por se negar a mandar o oxigênio para o restante do corpo, embaralhando os sentidos, perdendo a noção de quem sou, quem fui .

E você, marota, ao meu lado, acariciando meus cabelos, embranquecidos pelo tempo, lutas, feridas, cicatrizes, alegrias e tristezas. Falando baixinho ao meu ouvido sobre um tempo que se foi, em que a felicidade foi meu par e que eu, pequena que era nao sabia disso.

Venha, chegue mais perto... pela primeira vez sinto medo de viajar, dessa viagem a qual o destino é incerto. Dê-me sua mão. Aqui está escuro. Minhas pernas estão frias. Minha cabeça está pesada. Meus olhos nao abrem. Acho que terá que levar-me em seus braços para que não tropece em meus erros.

Vamos embora. Meu tempo passou, acabou. É tarde para a vida, tarde para arrependimentos.

Eu te acompanho.

Cláudia Marques
Enviado por Cláudia Marques em 10/07/2017
Reeditado em 10/07/2017
Código do texto: T6050604
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