Eternamente ao meu lado

Não sei se isso acontece
Com as outras pessoas
Mas hoje fui despertado
Por uma profunda agonia
 
Esse incômodo era tal
Que inundava o meu ser
Oh quão deprimente és
Desfrutar dessa sensação
 
É como se de repente
Apenas a tristeza
Habitasse o meu coração
Expulsando tudo de bom
 
Simplesmente meus ideais
Perdem totalmente o sentido
O mundo perde o seu brilho
E tudo começa a embaçar
 
E o que mais me intriga
Que as pessoas que nos cercam
Costumam não acreditar
Como se eu estivesse numa encenação


 
      Geralmente temos o hábito de querer explicar todas as coisas que acontecem ao nosso redor. É a famosa lei da causa x efeito, ação x reação. Com isso ao longo da minha vida tentei arrumar uma causa para explicar o porquê de tanta melancolia, de tanta tristeza, que inexplicavelmente costuma inundar o meu ser.
          Inicialmente eu comecei a pensar que seria por causa do começo, lá na gestação. Dizem que se a mulher não tem uma gestação tranquila, alguma coisa pode afetar a criança. Essa explicação por sinal é até defendida por minha mainha, segunda ela devido problemas familiares existente na época, ela tivera uma gestação meio conturbada, e talvez essa seria a explicação.
          Somado a isso, tinha o fato que perdi o meu pai muito cedo. Eu tinha apenas três meses quando o meu pai falecera devido a um acidente.
          Quando eu era criança, eu passei a pensar que o motivo de ser triste ao longo da vida, seria talvez a interrupção da minha infância, onde aos sete anos eu já tinha responsabilidade com as os afazeres domésticos. Como já expliquei em outras crônicas, tivemos uma vida difícil financeiramente e a mainha ajudava o meu pai, fazendo suas costuras, com isso, alguém teria que se prontificar para cuidar da casa, como eu era o segundo mais velho, e o irmão mais velho era nó cego, o pepino sobrou pra mim. Desde cedo obrigações como fazer almoço, janta, lavar banheiro, varrer casa, arrumar cozinha, providenciar o café, comprar pão, passar rodo e palha de aço no chão, encerar os tacos, eram obrigações costumeiras no meu dia a dia, além de ter que cuidar dos irmãos mais novos.
          Quando começasse a estudar eu pensava que isso poderia ser amenizado, então estudei para passar nos exames da Escola Estadual Polivalente, que na minha época era considerado o melhor colégio. Tive muitos momentos alegres na escola, mas mesmo assim a melancolia sempre estava presente.
          Quando eu era adolescente, eu trabalhava e ganhava um salário mínimo, eu ficava pensando que seria talvez por que não tinha um bom emprego, onde pudesse desfrutar de uma melhor situação financeira. Então nesse caso foquei minha mente em correr atrás de um bom emprego, e depois de muitas tentivas, de enviar vários currículos, em 1988 consegui fichar na Companhia de Aços Especias Itabira. E lá nessa empresa teve uma época que eu cheguei a ganhar até 20 salários mínimos, não que o salário era tão enorme assim, mas na época o salário mínimo estava muito desvalorizado, mas mesmo assim não deixava de ser um bom salário, e mesmo assim, obtendo uma situação financeira melhor, em momento algum essa melancolia deixava de me visitar. Muito pelo contrário, foi justamente na época em que trabalhava nessa companhia, que o meu estágio de depressão e tristeza deve ter atingido o pico máximo, afetando minha saúde, foi nessa época que fiquei uma semana enclausurado dentro de um quarto, sem ver a luz do sol. Nessa época algo que colaborou muito pra isso, foi a perda de três amigos meus numa explosão dentro da aciaria. Aquilo viera me abalar profundamente ao ponto que cheguei afastar e posteriormente aposentar por invalidez, tamanha era a depressão que tinha invadido minha alma.
          Em certo momento da vida, imaginei que quando casasse e que tivesse uma pessoa do meu lado, fazendo companhia, isso poderia acabar, e mesmo assim, isso não foi suficiente para espantar essa minha amiga.
          As vezes fico pensando como a vida é engraçada. O meu padrasto, Alípio, a pessoa que considerava como meu pai, tinha quatro sonhos, que eram: Comprar uma casa, um carro, almejava aposentar e por último queria realizar o sonho de ver sua única filha casada. Interessante que justamente um mês antes do seu falecimento, que coincidiu com a época que minha irmã casou, ele estava na minha casa, e comentava sobre isso, ele falava assim, talvez seja o único sonho que eu irei ver realizar, o casamento da minha filha, e aconteceu como ele pensara, um mês depois falecia e aquilo ficou latente em minha memória. Morrera sem ver o sonho da casa própria, do carro e da aposentadoria.
          Já no meu caso foi o contrário, os três sonhos que ele não conquistou eu tive a oportunidade de conquistar, mas o sonho que ele realizara, esse com certeza não deve nunca me pertencer, uma vez que nem filhos tenho. E esse fato de não ter filhos, em algum momento, cheguei a pensar que fosse a causa.
          Nem mesmo ter corrido para o Altíssimo, nem mesmo refletir intensamente nas Sagradas Escrituras, nada tem colaborado para que essa tristeza fosse expulsa.
          A verdade é que mesmo depois de mais de meio século de vida ela se faz presente na minha vida. É inexplicável, não tem como querer expressá-la, a impressão é que de repente tudo perde o brilho, ficando tudo cinza, tudo sem graça, sem sentido.
          Já nem tenho encarado como uma inimiga, as vezes nos momentos de solidão, ela é que se faz presente, é ao lado dela que afundo em minhas reflexões.
          Depois de tanto querer buscar uma explicação, para a causa de tamanha tristeza, cheguei à conclusão que nem tudo podemos lançar na lei das causas x efeitos. De repente esse é um fardo que terei sempre que carregar comigo. Uma coisa sei, jamais me entregarei a ela, sempre lutarei para que a vida tenha sempre brilho e um significado, por que no dia que isso deixar de acontecer, certamente minha vida estará no fim.
          Enquanto isso não irei relutar, e saberei que mesmo incomodamente, ela estará eternamente ao meu lado.
    
 
 
Simplesmente Gilson
Enviado por Simplesmente Gilson em 11/07/2017
Reeditado em 02/08/2020
Código do texto: T6051180
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