MAJESTADE

É difícil falar sobre a própria vida, manter a realidade e a simplicidade.Quando nasci naquela noite tenebrosa,tormentosa e escura,meu pai deu-me o nome de Simplício.Fui batizado por Dona Rosa que fazia os partos de todos que nasciam na localidade,pois era única nessa arte do amor, benzia e usava varas verdes, ficou alguns minutos me olhando, depois baixou os olhos, murmurou uma oração, depois não me tocou mais.Fiquei ali num catre,deitado, de onde mamãe me tirava para mamar, limpar-me e depois voltava a dormir.Eu era um anjinho afinal, um Simplício enrolado nuns panos, bem limpos, aos quais eu sujava, mamãe limpava, eu sujava de novo e assim fui crescendo, mamava muito até uns meses de vida e então comecei a beber outros líquidos,depois a comer papinhas.Eu tinha irmãos, sabia-o por ouvir suas vozes infantis, por me sacudirem e me levantarem sem jeito.Um dia depois de uma forte chuva, tendo voltado o sol e o calor,aqueles que eu entendia serem irmãos, pegaram-me no colo e foram comigo até o oitão da casa,ali onde a água da chuva escorria havia uma areia fina, então me colocaram no chão e foram passando aquela areia sobre mim,aos poucos fui fican do coberto com aquela terra fina, muito fina e ninguém via nada,não chegava ninguém ali e eu, Simplicio, já estava sufocando.Enfim, alguém gritou da porta, crianças o que estão fazendo com seu irmão.Era mamãe.Minha velha querida e sofrida mãe fez uma gritaria, ameaçou com o chinelo e por final levantou-me do chão, retirou meus trapos e me lavou numa bacia com água morma.Os outros fugiram dela e foram homiziar-se no galpão.Depois eles foram retornando pé ante pé e ficaram por ali até serem chamados para o jantar.Nesse dia eu vi que era superior, um ser provido de uma força acima dos outros.Meu olhos contemplavam os demais sem rancor, mas com energia capaz de fazê-los baixar a vista.Cresci, parei de mamar e passei a fazer quase o mesmo que os maiores faziam, apenas com maior energia e dedicação.Fui crescendo e um dia um homem que era o patrão de papai chegou em nossa casa e pediu água para beber e lavar o rosto empoeirado da viagem.Quando alcancei-lhe o que pedira,ele olhou-me e disse que eu escolhesse uma ovelha das que estavam na mangueira.Não perdi tempo, corri e saltei no varal, observei bem a todas e escolhi a mais bonita.Essa então é sua disse o patrão,quando chegar a época de cria estarás rico porque essa aí está prenha.No mesmo ano uma galinha choca saiu do mato com vários pintinhos, todos carijós, então passei a cuidar daqueles animaizinhos,depois vieram outros e outros de forma que depois de um tempo todas as aves eram minhas.Nunca, no entanto, cobrei nada de ninguém, ovos e carne de frango eram de todos.Somente quando chegava o Seu João da Carreta é que me pediam uma galinha para fazer com arroz.A rapa da panela era minha. Vivíamos bem e cheguei a possuir quatro ovelhas e isso me dava quatro velos de lã fina vendidos na cooperativa da cidade.O lucro foi colocado na Caixa.Eu era um Rei. Mas nem tudo dura sempre e de repente tivemos que mudar da região, vender o que possuía, vendi minhas ovelhas e galinhas.Subimos numa carroça e fomos para a Vila.A partir daí passei muitas dificuldades, mas a cada passo eu venci as demandas, afinal eu era um Rei.Venci muitas, as mais difíceis possíveis de imaginar.Hoje estou aqui, eu era um Rei e quem foi Rei sempre será majestade.

Luiz Carlos Costa de Moura- Julho 2017.

drmoura
Enviado por drmoura em 12/07/2017
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