(Ins)piração

Ela estava ali. Pálida. Encarava-me de uma maneira gelada e sua nudez arrepiava minha espinha dorsal. Eu sabia que deveria dizer algo. Uma palavra qualquer. Uma frase estúpida que anulasse o vazio que ela refletia. Mas não, nem mesmo eu me contentaria com uma frase estúpida. Eu queria preenchê-la com o que quer que houvesse de sublime em mim. Mas as palavras, as malditas palavras, sucumbiam. Por alguns segundos, eu repetidamente tinha a sensação de que elas chegavam até a minha boca e sem querer eu as ia engolindo, pesadas e angustiantes, para dentro do meu estômago que se retorcia com o acúmulo de letras tortas. Ela, impiedosa e claramente esperando de mim uma resposta para o seu olhar questionador, fixava sua brancura inquieta nas minhas retinas e me deixava refém de um sentimento insensato de falência múltipla dos dizeres. Enquanto eu me tomava de uma completa falta de inspiração, ela, a folha em branco, me implorava por uma história.

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. Um texto sobre a própria falta de inspiração. Velho e de hoje.

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*Textos de Quinta - Para fugir da responsabilidade.

Um a cada quinta. Não é promessa, é desejo =) #TextosDeQuinta #Crônicas #Contos

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 13/07/2017
Código do texto: T6053483
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