Por uma infância mais lúdica e menos patologizante
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        A clínica da infância é sem dúvidas, a mais desafiadora, dinâmica, complexa e de um viés de diálogos transversais para além das quatro paredes brancas dos consultórios de psicologia. Todavia, requer disponibilidade muito maior por parte do terapeuta e, flexibilidade para acolher a família em suas angustias, ansiedades e queixumes.

       Do mesmo modo, a contemporaneidade clama por medicamentos que neutralizem, inibem, analgesiem e amorteçam a dor, os comportamentos sem filtros, a fala descompensada, a agitação motora, os gritos, os choros compulsivos, a conduta contrária as regras sociais estabelecidas e, principalmente a autenticidade e a subjetividade humana.

    As medicações fazem parte do nosso quotidiano e muito tem ajudado em amenizar a dor e a - dor crônica, mais precisamente, no entanto, parece que não podemos sofrer nenhuma alteração e é, preciso transparecer hiper bem, distintamente comportados, amáveis, saudáveis, agraciados pela vida em todos os aspectos, porque senão a “solução” é a medicalização para que as coisas fiquem dentro de um suporte social que se julga adequado.

       E o pátio da infância, é o palco privilegiado que ali crescem as patologias, feito erva daninha em terreno de saibro, difícil de se arrancar o estigma. A criança perde a sua identidade de “ser criança” em nome de uma nomenclatura de um manual de diagnósticos e transtornos.

      De forma alguma nega-se os estudos científicos, as revisões bibliográficas, as pesquisas de ponta, a fidedignidade e validade dos testes em torno das patologias da infância. O objetivo deste texto é problematizar a questão do estigma social que acompanha a criança com um diagnóstico de transtornos mentais, e/ou por comportamentos mais agitados, e o não acompanhamento dos estudos em sua classe escolar, com escore menor do que a média em sua faixa etária.

     Estamos em um momento extremamente delicado, volátil e com urgência para todas as coisas - inclusive para a infância, parece que um pouco de falta de atenção, peraltices, dificuldades de compreensão e/ou negação daquilo que está sendo proposto, e até mesmo as diferenças no desenvolvimento humano não são toleradas socialmente e, logo, transportadas como afinidade de um transtorno mental.

     Desde modo, faz-se necessário proporcionar espaços de aprendizagens mais dinâmicas, desafiadoras, que contemple o foco da atenção à criança que está em desenvolvimento, portanto, passível de cometer alguns equívocos e erros, mas, que desta forma possa aprender associar as coisas, confrontar as diferenças com as suas próprias falhas e, aprender com isso. Nos auxilia a sermos adultos menos imediatistas, em não ultrapassar etapas tão importantes do desenvolvimento quanto a infância.
   
 
Águida Hettwer