Sobre dúvidas

Faltam pouco mais de cinco meses para o fim de mais um ano e as minhas dúvidas de quando eu tinha 18 anos ainda pairam sobre minha cabeça, agora com um Black Power enorme acumulando elogios de noites absurdas nas ruas boêmias de Curitiba. Sim, acreditem se quiserem, passaram-se quase 10 anos depois e as incertezas ainda dificultam minhas escolhas até na hora de escolher uma coxinha ‘’ É com catupiry ou sem? – pergunta a atendente mal educada e sem paciência’’ Digo que com catupiry sim, claro sem certeza alguma do que falei, apenas balbuciei palavras, gaguejei na frente da balconista que percebeu o meu fracasso e provavelmente disse mentalmente ‘que porra de cara idiota’.

A dúvida é assim mesmo, ela envergonha você na frente de todos, a dúvida faz você suar frio na hora que a operadora de caixa do supermercado pergunta se é débito ou crédito e você olha para a caixa que te devolve o mesmo olhar e depois de cinco segundos é hora de decidir rápido porque a fila já dobra o corredor dos congelados e você desastradamente responde ‘débito’, ai que angústia e que alívio ao mesmo tempo. Só quem sofre do mal da dúvida é quem pode te ajudar, pois imaginem aquela pessoa decidida, convicta e objetiva te falar simplesmente ‘não pense na dúvida, vai lá e faça’ você simplesmente vai olhar pro relógio, olhar pro seu copo de água ainda pela metade, beber toda a água imediatamente e dizer ‘OK, vamos nos falando, tô meio atrasado’ é a única decisão tão rápida que você toma em toda a sua vida.

Quero pessoas com os mesmos problemas e que aprenderam a superar as incertezas do domingo à tarde e que trazem questões romanceadas de sua trajetória de vida. Quero mesmo são pessoas que ficam horas e horas na Renner escolhendo qual look usar na confraternização do fim de semestre. Necessito do apoio são das pessoas que concordam que a dúvida tem um lado bom: a curiosidade, pois sem ela estaríamos confortavelmente estáticos em nossos lugares, recebendo o mesmo salário no fim do mês, comendo o mesmo feijão com arroz de sempre, fazendo sinal pro ônibus na mesma parada de todos os dias, dormindo do mesmo lado da cama, usando a mesma calça preta slim pra sair no sábado, beber a mesma cerveja no mesmo bar, conversar com as mesmas pessoas, acordar sempre às 10 da manhã, ouvir o mesmo sertanejo universitário para animar as sextas e afogar as mesmas mágoas cantando Marília Mendonça no banheiro.

Não estou fazendo apologia ou enaltecendo o pensamento duvidoso, sabemos que a dúvida corrói sim, mas ter certeza de tudo é tão limitante não é? Pra quê ir conhecer o novo se do meu jeitinho vai dar certo? E por que eu iria por esse caminho se o que eu conheço é mais curto e mais fácil? Por favor, ouçam as pessoas que têm dúvidas, parece chato no começo, mas depois você vai querer provar até provar a coxinha vegana que sobrou. Atenção! Há duvidosos chatos que não querem mudanças, falo aqui são de duvidosos loucos.

Philipe Burgues
Enviado por Philipe Burgues em 13/07/2017
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