Autoria da foto: Álvaro Posselt  - Essa foto foi da participação do evento na semana da árvore em setembro / 2016 - UMA POESIA EM CADA ÁRVORE. Em Curitiba é sempre realizado no Passeio Público, o parque mais antigo da cidade.                      
                
                         LEMBRANÇA FELIZ
 
        De nada posso me queixar da minha infância. Não tínhamos dinheiro nem roupas boas. As melhores  tínhamos que usar somente aos domingos para irmos à igreja. Eram as famosas domingueiras. Muitas vezes chorava, mas de barriga cheia, porque graças a Deus o pão nunca faltou na nossa mesa. Quando chegávamos do culto da igreja Protestante (meu pai era professor de Escola Bíblica) tínhamos que tirar a roupa melhor e colocar de volta a velha, muitas vezes com vários remendos. Descalço era quase sempre. Lembro do primeiro calçado. Ganhei uma camisa social e um par de sapatos de um dos meus irmãos. Fiquei numa alegria só. Pra lá de faceiro, como dizíamos e até hoje dizem na região Sul.
          Íamos para a escola (Grupo Escolar) que da nossa casa era uma distância de aproximadamente 3 a 4 quilômetros. Aquele sapatinho chamado de colegial, soladura de borracha,  a gente só calçava para ir à escola e assim que chegávamos tínhamos que ficar descalços novamente. Saíamos muito cedo. No inverno a geada fazia barulho debaixo dos nossos pés.
          Não me lembro do primeiro poema, porque fazia em qualquer papel depois jogava fora. Alguns usava carvão e escrevia nas tábuas de cercas. A professora viu uma das minhas poesias e gostou. Eu lhe disse que faria uma para ela. E fiz. Escrevi no caderno, arranquei a folha e lhe dei. Desse poema só me lembro do título: EM SETE DE SETEMBRO. Isso porque estávamos na semana da Pátria. Ela disse que gostou. Não sei se gostou mesmo ou para me agradar. Mas acredito que foi Deus que usou essa senhora. Depois disso sempre me incentivava a escrever. O primeiro livrinho que li foi o Jeca Tatu de Monteiro Lobato.
          Hoje falar da minha infância pobre me emociona. Quando tenho a felicidade em participar de algum evento literário ou quando sou classificado em algum concurso de literatura, lembro-me dessa professora que foi tão amável comigo. Um verdadeiro anjo essa senhora que foi minha mestra.
 
(Christiano Nunes)