Cognac

Acordo num quinta-feira, dia de inverno, porém com chuva, não acho ruim não, mas, por algum motivo, eu não queria um dia com chuva, gostaria de dar uma volta hoje, não em pró da minha saúde, mas, para comprar uma garrafa de conhaque, poderia ser mais fácil eu simplesmente ir ao bar e tomar um copo de conhaque, no entanto, isso exigiria qualquer contato social e eu evito isso, prefiro comprar a garrafa e tomar tudo sozinho em casa. Faço uma busca rápida por dinheiro entre os bolsos das roupas que tenho usado durante a semana, acho um real aqui, um real aqui, um real ali, dois reais acolá, e na carteira eu tinha dez reais, deve dar para comprar um barato.

Olho a nota de dois reais e me lembro do dia anterior, quando um morador de rua me pediu uma esmola, eu tinha exatamente esses dois reais, olhei diretamente nos olhos dele e disse que não tinha nada nos bolsos, eu acredito que ele iria comprar drogas, tentar comprar crack, qualquer coisa para tirar ele da realidade que ele vive. Ele poderia realmente estar morrendo de fome e precisar comer e beber algo, mas, creio que perante a necessidade de usar drogas ele esquece que tem fome e que tem sede, pobre alma, corpo já podre com o vicio.

Olho no canto da nota de dois reais e leio onde está escrito “Deus seja louvado.”, essa mesma nota com essa frase iria para uma boca de fumo, sustentaria um vicio, condenaria uma pessoa mais e mais, quantas vezes essa nossa já deve ter rodado de mão em mão, o suficiente para escrever um livro enorme, sem imagens e com letras pequenas; provavelmente já inteirou o dinheiro de um maço de cigarros, já pagou uma dose de cachaça, ajudou a comprar maconha, cocaína, metanfetamina... Esses trocos sempre fazem toda a diferença.

Agora que já estou em casa, vou beber um pouco do meu conhaque para esquentar um pouco esse frio que a chuva traz e pensar um pouco mais nos dois reais escrito “Deus seja louvado”, que me ajudou a comprar a minha bebida.