O TOM DE ABANDONO DO SALVADOR

Muitos tentaram me salvar, ser um cristo minúsculo de sentido indefinido para esta face cansada, incluindo a própria poesia messiânica e canibal, porém o papel branco e vulgar, alvo como o raiar do dia também me será sepultura em longo prazo, pois este é uma incógnita de enfeitada alegoria e duvidosa estética. Fui me decompondo no decorrer de horas duras e violáveis, na súplica do papel, na sua sede compulsiva de me ter e de eu me confessar desertor da banalidade mesmo eu não o sendo de todo, tudo se revela ao sol, tal qual, aqui nestas linhas sou fútil figurado. Este é e sempre será o nosso segredo mais proibido, longe do pecado capital, mas de total sublimação, com um quê absoluto de imoral, todavia, jamais profano ou trivial. O papel é meus pés e a poesia o tronco da vida, uma solução barata e eficaz, uma espécie de melhor veneno contrário para ser apreciado aos poucos. Deixo nele, parcelas de mentiras aderidas, verdades convictas de uma alma ordinária originária do carvão. Sei que em algum tempo desconhecido o papel me abandonará, descolará de um eu descolorido para decolagem, terei assim, meus pés cortados, e no tom de abandono do Salvador, estes seguirão para proselitismo próprio, falarão de alguém a quem um dia pertenceram, mas, que, naquela realidade distante e profética são maiores que qualquer objeção avessa do meu eu condenado ao limiar do batente do passado também chamado de lápide ou página.