E Deus, onde está?

O pensamento nos oferta as idéias, e o homem buscam Deus incessantemente, com medo de ter medo ou de não ter esperança. Deus pode ter sido o maior sonho tornado realidade que o homem conseguiu realizar. Patrimônio já indestrutível para os que crêem nesse sonho feito realidade.

Deus sive natura (Deus, ou seja, a Natureza) – segundo o filósofo Baruch Espinosa. A natureza poderosa de Deus que, além de ser, possui a essência da criatura e do ato de criar. É o poder, o fruto da criação e a imortalidade da essência em si mesmo. O poder de tudo e em tudo. Aquele que transcende - puro amor, o mítico e o real, o que ainda é desconhecido por tantos.

O filosofo tinha razão quando disse que Deus é ainda mais poderoso que a liberdade.

Por tudo isso, o homem diz-se criador, muito embora em seu molde menor de tessitura. Seus limites são muito menores do que o real poder de criação.

Visito agora o outro lado da criação e acredito que as minhas personagens, as que crio, dialogam com muitos mundos, como se quisessem com isso compensar o legítimo e faltoso poder de criação.

As minhas personagens (dos outros) falam sobre os outros e sobre mim. Nas entrelinhas do que escrevo estão pequeninos vulcões discursivos – às vezes nem tão pequeninos. Esses vulcões nunca adormecem. Eu fico a admirá-los depois que escrevo os textos, nas releituras silenciosas e atentas. Chego a surpreender-me com o que me permito escrever. A literatura que produzo, parece possuir uma boca cheia de liberdade própria – quase a zombar dos meus limites.

Instauro um novo tempo em mim mesmo, para poder recriar outros novos tempos distintos. Acordo de um lindo sonho todas as vezes que findo um texto. Prometo a mim mesmo revisitá-lo mas, por vezes várias, não o faço, como se revisitá-lo me causasse uma certa temeridade – são nessas horas que me acho prisioneiro do que escrevo.

Esses diálogos entre as personagens que crio abastecem-me de sapiência também. Fazem eles crescer a minha alma. É por isso que a literatura possui o infinito poder de transformar-nos em eternos e grandes viajantes ao desconhecido. Nas paradas que fazemos, absorvemos os passos dados e nos reabastecemos para continuarmos com a infinda caminhada.

Quando sintonizo dentro de mim meus pequeninos deuses da criação, paro meus filhos e ofereço-os em forma de contos, crônicas, ensaios, poemas. Neles estão a maior força do meu maior bem e valor narrático, a minha maturação enquanto escritor de mim mesmo.

E, enquanto encontro a poesia no silêncio de minhas criações, confabulo com estranhos e interessantes mundos, encontro-os nessas paradas de minha estrada literária.

Não canso de acreditar que o homem é o que ele lê; um grande homem fez certamente grandes leituras e releituras durante sua vida. Ler bem é abastecer o imaginário com grandes idéias e alimentar a vida com a poesia do encantamento diário.

Minha vida está para a literatura como o meu sangue está para minha carne. Acredito piamente que Deus alimenta dentro de mim um deus minúsculo, mas suficientemente forte para me permitir criar e cultivar infindos paraísos onde a literatura que escrevo consegue transformar personagens irreais em brinquedos reais, talvez sacrossantos. Meu mundo possui, portanto, as cores misericordiosas de Deus e o perfume das paisagens que crio, esses doces valores de mim, sobre mim, que tenho ofertado tão carinhosamente aos meus leitores.

Baruch Espinosa tinha razão quando falou tudo aquilo que pus no início desse texto!