instinto paterno

Instinto paterno. Essa coisa existe de verdade em algumas espécies. O materno é mais ferrenho, mais gritante. Não queira nunca desafiá-lo. Penso que em qualquer espécie o materno sempre imperará (ai! Que palavra horrível!). Mas temos a oportunidade de ver até na raça humana, dita racional, como tal instinto aflora. Tenho a neurose de escolher um tema assim e passar semanas observando as mais diferentes espécies de viventes para explorá-lo ao máximo que a minha triste ignorância permita. Aqui vão as minhas reflexões sobre o tema supra proposto.

Não é raro uma planta murchar temporariamente quando lhe é extirpado um rebento. O que me leva a crer que até as plantas tem sentimentos. Sinceramente desconheço se há algum tratado cientifico sobre isso em particular. Prometo verificar, se houver vou ver e ficar pensando um tempo a respeito. Terei, então, mais um tanto de assunto. O certo que sei é que as plantas ornamentais da mulher que divide a existência comigo por esses últimos trinta anos, ficam mais viçosas quando ela conversa com elas. Coisa estranha uma pessoa conversar com quem ou o que não responde, mas vivendo dia a dia com uma mulher que a gente ama com o verdadeiro sentido do amor, a gente aprende um mundão de coisas. Essa a que me refiro conversa com o gato de maus bofes que ela chama de Azagal e eu chamo de Seu Lunga, este mia incessantemente sem prestar a menor atenção; conversa com a Meguie, nossa cadela basset, que fica olhando pra ela (pelo menos isso) com aquela cara de lerda, igual eu fico quando alguém tenta me explicar a bem aventurança de ser filiado a determinado partido político, ou ser torcedor de um time tal, ou que o globo da morte, onde nunca ninguém morre, é um grande espetáculo. Em circunstâncias tais eu também faço aquela cara de babaca como quem diz com os olhos: entendi! Mas, cá pra nós, a língua no vão da bochecha: ranram!

Perdoem a digressão! Ela não é de todo inútil aqui, quer chamar a atenção para o fato de uma mulher conversar com seres que não respondem, virtude de que o homem é desprovido. Virtude sim! E essencial para o desenvolvimento dos novos exemplares da raça. Se não fosse por essa peculiaridade das mamães, com quem os bebês aprenderiam a falar? Parece-me que o instinto do pai está mais concentrado na segurança, defesa e manutenção da integridade física da prole. Ou não. Ali vem um pai abestado dirigindo na contramão um carro esporte verde, som alto, com um filho de 6 anos, sem cinto, no banco da frente. Deve estar preparando o idiota que irá deixar no mundo em seu lugar.

Fui, certa vez com o Sr. Zeca, resolver um problema estrutural de uma empresa onde éramos colegas. Tivemos que arrastar uma caixa d’água de fibra com capacidade para 5000 litros, leve, mas enorme. Sob essa caixa havia um ninho de lagartos verdes, do qual não tínhamos conhecimento. Por uma infeliz fatalidade, naquela tarde esprememos com a caixa contra o solo, os pequenos animaizinhos, os ovos se espatifaram e o pequeno cadáver da fêmea ficou fragmentado espalhado pela terra úmida. Não sei por que mistério o lagarto macho sobreviveu. E nos surpreendeu pela sua inesperada bravura ao investir contra nós completamente desarmado. Recuou, porém, diante as botinas rangedeiras do meu parceiro, voltou para perto do ninho destruído e, sinceramente, pareceu-me que chorava.

Foi naquele dia que comecei a pensar seriamente sobre essa coisa do instinto.

Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 11/08/2017
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