Primeiro beijo

Tinha apenas 13 anos quando isso aconteceu. Sempre aparentei ser um garoto mais velho do que realmente era. Aos 14 consegui namorar uma “menina” de 23 anos dizendo ter apenas “19”. Aos quinze levei um fora de uma menina que achava que eu era muito velho para ela (14). Acho que o fato de ter feito basquete (apesar de ter apenas 1, 83, uma estatura baixa pra o esporte, mas altíssima naquela época para um garoto entrando na puberdade) e a eterna cara-de-pau me derem essa carta na manga para utilizar com as garotas. Mas... Estávamos falando de minha primeira conquista.

O nome dela era Roberta, ou era Renata? Bom, não importa. Direi até que, para fins de história sem confusão, a sua graça será “Juliana”.

Juliana era a sobrinha de meu vizinho de edifício e era muito bonita. Tinha os cabelos negros na altura dos ombros, era alva, devia ter 1, 60 no máximo, dentes perfeitos, um abdômen trabalhado, 17 anos e dona de uma voz encantadora (sotaque do interior de PE, e como naquela época tinha acabado de aterrissar de SP em Recife, achei isso perfeito). No entanto, ela tinha um único defeito: Ser sobrinha de quem era e ainda é!

Pedro era, na época, um renomado médico de não-sei-o-que-lá, mas eu sabia que ele era importante. E por mais que eu soubesse disso, ele sabia ainda mais que todo mundo e fazia a questão de estampar isso onde pudesse. Arrogante e cafona. Mas tio de uma garota que fazia com que me portasse como um típico “hominho”. Daqueles que dão “boa tarde” à todos e abrem a porta do “hall” do prédio para uma dama entrar (se havia uma dama naquele lugar, era de minha total ignorância. Pois sempre me dei conta da quantidade enorme de peruas que ali habitavam. Lógico, tirando minha família desse ataque.) Mas, tergiversas a parte... Vamos voltar a “Juliana”.

Eu e “Juliana” tínhamos nos identificado desde o começo. Ela estudava no 3º ano do colegial, eu jogava bola. Ela já falava inglês fluentemente, eu jogava bola. Ela tinha uma tatuagem no pé e eu jogava bola. Ela queria ser médica, e eu queria ser jogador de futebol (não sei onde errei para acabar virando publicitário). E por toda essa nossa química e afins tão parecidos, começaram a surgir as primeiras brincadeiras entre os amigos:

- Êêêêêê... Tem alguém apaixonado por aqui. – Dizia o Marcelo, melhor “amigo-fuinha” que já tive.

Eu não estava apaixonado. Na verdade, estava era nervoso! Nunca havia beijado uma garota em minha vida e não sabia como é que funcionava essa história de “ficar”. Eu imaginava o beijo como algo estranho e que tinha que ser combinado anteriormente. Como assim?? Vou explicar... Eu jurava que a boca era alguma coisa como o buraco negro, enorme mesmo, e que tínhamos que dizer para que lado iríamos jogar a língua para que o outro também fizesse o mesmo, senão ficaríamos todos no vazio!

Meus amigos, muito solícitos e no auge de suas experiências de meninotes de 13 anos, davam-me todo tipo de conselho:

- Tenta beijar uma maçã. Mas sem morder! Se ficar a marca dos dentes é porque você está errando.

- Que maçã o que! Mete um gelo na boca e fica brincando com ele. É a mesma coisa que vai acontecer quando você beijar.

O fato é que enjoei dessa fruta e minha língua perdeu um pouco da sensibilidade, também, por um tempo. Mas, tudo pelo bem da ciência e da reputação, afinal de contas, eu já havia “beijado” trocentas e oito garotas e não poderia decepcionar.

Finalmente decidir ter a coragem de confrontá-la e pedir um beijo. Peguei os últimos conselhos com o Diego, e pedi para o Cícero, porteiro do edifício e personagem de uma próxima história, interfonar para a criatura descer.

- Meu Deus, o que eu falo agora, Diego?

- Relaxa e faz o que te ensinei!

- Tá certo! Torce por mim.

E lá veio a “Juliana”. Lembro como se fosse hoje de manhã: Cabelos soltos, uma blusa branca, um andar desconcertante e um shortinho de levantar vovô em asilo para idosos.

- Oi Thiago! Mandou me chamar?

- Oi! Mandei sim. É o seguinte. Senta aí primeiro. Isso. Sim.. Onde estava mesmo? Ah! Ok! É o seguinte, estou “afinzaço de tascar um beijão nessa boca gostosa, aê! To ligado que tu tá na minha e eu também estou na tua. Quero saber se vou ter alguma chance aí!” – Acreditem, repeti tudo o que o meu amigão tinha me ensinado. E na hora em que falava isso, percebi que eu mesmo não beijaria alguém que falasse tamanha asneira. Mas, já tinha falado. No entanto, a resposta dela foi surpreendente:

- Pensei que você nunca fosse perguntar! – Disse 2 segundos antes de me beijar. No final das contas, tudo deu certo e o beijo,ou o que lembro dele, saiu bem. Mas eu não tinha ensaiado o pós-beijo! Não sabia o que falar com ela depois disso. Sempre fui um cara meio tímido. Acabou ficando mais ou menos assim:

- Hummm.. Legal.. éééé.. Olha, minha mãe ta me chamando. Até amanhã! Tchau!

Nem preciso dizer o quanto fui zoado por meus amigos durante algum tempo. Eu e a “Juliana” ainda ficamos juntos por algumas semanas, até ela voltar para o interior dela. Mas tudo isso foi o bastante para eu me tornar o “expert” em assuntos amorosos entre os meninos da rua. Isso até o Diego perder a virgindade e tomar o meu posto, mas já são outros quinhentos....