...Até logo festas!

Crônica publicada no Jornal O Atlântico de 09/01/2006. Em minha coluna

... “Então é natal, e ano novo também”...

Esta frase já grande conhecida de todos, traduz como nada e ninguém o ocorrido nas últimas semanas. Inúmeros preparativos, como em toda comemoração foi válido qualquer detalhe para harmonizar, amenizar, retratar, encantar, enfim... Alterar por 36 horas a rotina vivida num período cerca de 8 meses.

Não importa a cor, nacionalidade, classe social, foi natal, é ano novo, e aos brasileiros eternamente sedentos de festa, é destinado o melhor natal do mundo, onde o calor é de 40 graus e o papai noel vem mais empacotado do que qualquer presente do seu saco. É também contraditório, pois quem morre é o peru, no entanto rezam missa para o galo. São conseqüências do cultivo de tradições americanas, seria falta de criatividade? Não, mas em demasia comodidade!

O fato real é que o natal e a chegada do ano novo são tratados como eventos que nos alteram o dia-a-dia. Por partes está correto, por partes não. Porque nos tira de uma rotina de grande tempo, e nos coloca em outra de alguns dias, isso todos os anos, algo que faz parte de uma determinada parte do ano, é rotina!

Existe sempre a festa onde se reúnem sogras e cunhadas, as mulheres ficam na cozinha bebendo coca-cola e cerveja preta, dentre estas sempre está presente uma gestante, e os assuntos... Depois relataremos os assuntos. Os homens ficam na garagem (onde será realizada a ceia) literalmente enchendo a cara, contando histórias e preparando o prato principal: carne assada. As crianças ficam brincando ao redor da piscina de plástico montada ao lado da garagem.

Na cozinha a dona da casa cuida do peru, e deixa ele um pouquinho mais no forno porque o termômetro já “saiu pra fora” e a carne só ta cozida. Uma das sogras não tem mais de 50 quilos, mas traz de casa gelatina e laranjinha light para o próprio e exclusivo consumo. A esposa sempre pede para o marido não beber demais, mas nunca adianta o porre é de lei, porque segundo ele: “hoje é natal”. E ainda não é 10 da noite do dia 24. depois de todos provarem do belisco, e cutucarem a maionese com o fascinante creme hellman,s, as mulheres se dirigem a barriga da grávida. “A barriga dela ta tão pontuda, né? Dá até pra dizer que é menina.” Mas é menino, o nome será João Pedro. A cunhada mais nova, questiona a cunhada mais velha sobre o ligamento de trompas porque “dois já tá mais do que bom.” Falam de anticoncepcional, do clima, da melhor marca de sabão em pó, etc. quando faltam 20 minutos para a meia noite, uma cunhada, a que mora na casa ao lado vai buscar talheres e as caixas de bombom.

Depois de comerem o resto da maionese, a carne salgada demais, a farofa de bacon e pão, todos se abraçam. Desejam feliz natal, e trocam presentes, nada mais do que uma caixa da Nestlé por outra da Garoto, a dona da casa guarda a sua encima da geladeira ao lado das caixas de panetonne que ganhou da mãe e da filha. Comem o pudim e a gelatina light, bebem um pouco mais e vão embora.

De manhã todos voltam, tudo se repete sob a luz do sol. E vem então o ano novo, onde a família que deu a casa pra fazer a fresta não quer saber de ser anfitrião outra vez e vão pra algum parente na praia. A filha está louca por um vestido branco, igual ao da moça das novela, o marido querendo pegar estrada cedo, pra não enfrentar fila, a esposa ajeitando o biquíni, o filho colocando as malas no carro... E tudo acontece como no ano passado, a vida tenta repetir suas façanhas, mas cada dia é um novo dia, sem igual, só de pende de nós. É uma pena esquecermos na maioria das vezes do significado destas datas. É montando um belo presépio sob a árvore, ou nos vestindo de branco, no entanto refletir sobre estes atos parece ser desnecessário. Os fogos iluminam o mar, fazem a lua desaparecer, e tudo não passa de “lindo”, se vai para casa e espera a vida voltar ao normal, se come chocolate até duas semanas depois das festas, dos restos do peru se faz lasanha ou torta, passam alguns finais de semana “farofando” na praia, até que as férias acabam, o marido veste seu uniforme de trabalho, os filhos o da escola. O ano novo, se torna velho, normal, mas a mente já salta lá na frente esperando o carnaval, páscoa, as próximas datas, mais festas!

Douglas Tedesco
Enviado por Douglas Tedesco em 15/08/2007
Reeditado em 25/09/2007
Código do texto: T608464