AUTOPOIESE

De que nos servem estrelas tão distantes e indiferentes com seu tênue brilho de autogênese, sua lição de autoconsumo sem dependência ou se importar com o alheio faminto e colossal? De que serve toda esta potestade criacionista e viral ao cosmos se não podemos tocá-la, almejá-la, só invejá-la ou admirá-la com a certeza da nossa incapacidade de ser brilho da mesma magnitude? Será nossa pequenez parasitária insulto certeiro à grandiosidade das luminosidades eternas sob a falha ótica humana? De que nos servem estrelas tão fixas ao seu papel de parede universal? Não seriam os vaga-lumes donos de maior humildade? De que servem estes noturnos guias silenciosos se na hora de maior precisão ignoram a oferta de ajuda ao apagarem os olhos? O quê será dos corações ao alto, dos postes de iluminação, dos próprios vaga-lumes nesta dança do carnal e artificial ante a inefável promessa de eternidade que sussurram as estrelas das altitudes intocáveis? Como detectar sua mentira de brilho quando já têm morte cumprida e somente sua luz é vista? Quando me dirão que mesmo me lustrando diariamente não posso me dar semelhante brilho? Quando caíram em ira sobre a cabeça daqueles, que como eu, em sua escuridade, ousam desafiá-las?