Tempo bom

Estava observando o céu hoje à tarde e ele estava repleto de nuvens de tempo bom, que são aquelas nuvens fofinhas como as do desenho animado Ursinhos Carinhosos, que mais parecem pedaços de algodão flutuando. Lembro que em uma aula de climatologia o professor falou sobre os tipos de nuvens e o que elas significam meteorologicamente falando. As nuvens Cumulus (que são as nuvens de tempo bom) indicam que não há previsão de chuva e que provavelmente será um dia ensolarado; um dia de tempo bom. Mas tempo bom para quem?

Quem vive no semiárido sabe muito o que é considerado um tempo bom por aqui. Tempo bom aqui é tempo fechado. Nuvem de tempo bom aqui são aquelas escuras, na eminencia de desaguar (chamadas de Nimbus), essas sim são bons sinais para nós, que estamos sempre desejando chuva para banhar nosso chão.

A partir disso fiquei pensando em como a beleza varia de visão para visão. Quando se fala em dia bonito ou tempo bonito, se você for de uma região fria e/ou que muito chove, você logo associará a um dia ensolarado, um céu todo azul, uma brisa leve escorregando por entre os cabelos e por aí vai. Mas se você é de uma região seca, semiárida, onde o sol é amigo nosso de todo dia, talvez o dia bonito com um tempo bonito que você imagine seja bem diferente, talvez tenham umas nuvens carregadas de chuva na paisagem imaginária desse dia.

E essa visão de beleza se estende para qualquer instancia da vida. A gente tem mania de achar mais bonitas as coisas que são raras pra gente, aquilo que a gente não tem todo dia, o exótico. E essa concepção de beleza vai passar também pela valorização que damos a estas coisas que achamos bonitas. São aquelas velhas frases: “só valoriza quando perde” ou “só valoriza o que não tem”. E o pior é que somos mesmo assim.

A maioria de nós valoriza um padrão de corpo que nem sequer existe na vida real. Tem gente que passa a vida inteira refém da balança para alcançar um padrão corporal que não faz o menor sentido para ninguém, um padrão feito para que ninguém o alcance.

A maioria de nós valoriza a cultura de lugares que nunca fomos e esquecemos de vivenciar a cultura viva de onde pisam os nossos próprios pés. Tem gente que vive no sonho e nos planos de sair de onde está e acaba esquecendo de aproveitar o caminho que faz até chegar nesses sonhos.

A maioria de nós valoriza somente pessoas que estão longe e esquecemos de sair na calçada e dar um bom dia pro nosso vizinho. Não é fácil encontrar gente parecida com a gente, que goste das mesmas coisas e tenha uma opinião parecida sobre a vida, mas não custa nada se deixar conhecer por pessoas que estão por perto, mesmo que estas não sejam o seu ideal de pessoa, mas elas também são gente e têm todo um universo particular para se conhecer.

A maioria de nós valoriza a vida dos outros, a família dos outros, o emprego dos outros, o cabelo dos outros e não valoriza nada da gente. A gente tem que aprender que há sim beleza em nós e em tudo aquilo que temos, a gente só tem que saber olhar melhor para si.

Eu comecei a crônica falando de nuvem e acabei falando de vida. Mas é que talvez, assim como as nuvens, a gente só precise ser olhado da maneira certa pra ser valorizado. Talvez a gente só precise sair um pouco de casa e olhar pra gente do lado de fora. Talvez sejamos raros, bonitos e desejados, só não aprendemos a nos olhar direito ainda.