ORDINARIO, MARCHE!!

Final dos anos 60! Grupo de jovens da Igreja Presbiteriana Independente do Recife vai passar o final de semana em Natal para participar de um evento. Parte do grupo fica hospedado na casa de dona Nair e seu Francisco, nas proximidades da Igreja onde haveria o Encontro.

Sábado pela manhã após um delicioso café da manhã na casa onde estavam hospedados, os jovens saíram à pé para a rua João Pessoa no grande ponto. No trajeto, eles teriam que passar por uma unidade militar, de pequeno porte. Neste momento, estava havendo a troca da guarda da unidade militar. Os jovens caminhavam despreocupadamente pela calçada quando o jovem Paulo, para dar uma de engraçado, diz bem alto: Ordinário, Marche!

Os jovens riram, mas os militares escutaram e não gostaram da brincadeira. O sargento responsável pelo pelotão gritou: pega o rapaz ali. Prenderam o Paulo e o grupo seguiu para a Igreja a fim de tentar libertar o recém detido. Coitado do Paulo. Nunca havia ofendido nem a um pinto, e agora, preso.

Os jovens chegaram incompletos, pois um havia ficado no quartel. De imediato, os que estavam presentes começaram a listar quem poderia ajudar a libertar o preso. Fala com o Pires, um Tenente da reserva, dizia um. Vê se Machado conhece alguém, falava o outro.

Enquanto isso, no quartel, o jovem Paulo era submetido a um interrogatório. Nessa época de ditadura militar, todo jovem era um subversivo em potencial.

- Qual é o seu nome?

- Paulo Rodrigues

- Você é de onde?

- Do Recife, respondeu Paulo.

- Trabalha com que?

- Sou estudante!

- Ah, eu conheço muito bem os estudantes do Recife. Um bando de subversivos, que querem desmoralizar as forças armadas!

Recife nos anos da ditadura militar sempre foi um reduto de esquerda. Na realidade Paulo havia mentido, pois ele não era estudante e sim vendedor de publicidade das páginas amarelas da Lista Telefônica. Ele temia citar o nome da empresa onde trabalhava e desse modo, perder o emprego.

Finalmente o tenente Pires conseguiu explicar aos militares que houve um equívoco. Aquele jovem não havia cumprido o serviço militar e não tinha a menor noção do respeito que era devido às autoridades militares. Dessa forma, o Paulo foi libertado e chegou na igreja aliviado do sufoco que havia criado. Prometeu que nunca mais daria ordem unida e não passaria nem na calçada do outro lado da rua de um quartel militar. Foi muito cumprimentado por todos e na segunda feira retornou ao Recife e foi logo vender publicidade de páginas amarelas! Amarelar em quartel, nunca mais!!

Carlos Alfredo 12/08/17

Carlos Alfredo Melo
Enviado por Carlos Alfredo Melo em 24/08/2017
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