OLHOS QUE MENTEM

Meus olhos mentem. Como acreditar naquilo que veem ou leem se estão sujeito a interpretação pela dor da carne ou outros tantos filtros falhos? O que dissocia a verdade da mentira entre o eu e o alheio? Se meus olhos mentem, precisamente, não sou confiável, posso atribuir medidas e pesos errados, oferecer juízos duvidosos, facilitadores da minha moralidade imoral. Numa análise fria pergunto-me se o defeito está em mim ou nestes olhos ou órgãos a parte desta consciência consciente dos seus deslizes? Qual de nós fora trazido da fase embrionária com este desvio de subjetividade sedimentada no previsível e condenatório? Qual verdade trago, se é que de fato, trago algo de real em mim que não provêm de interpretação peneirada? Se estes inocentes olhos coloridos me traem e me mentem, como poderei não enlouquecer com outras tantas partes mais sujas: nariz, boca, pele, ouvidos, pés, mãos? Por quais mentiras que estes contarão que serei julgado e condenado? Estou sobre o peso de quantos outros juízes impositivos e falsos? Creio eu que nunca carreguei verdade alguma sem útero não pude abrigar gestação de cunho certo. Certamente não se salvará nem mesmo meu coração enterrado atrás deste peito de primaveras passadas. Decididamente, se tudo em mim é mentira dada pelos sentires então a verdade é que me é contrária e falsa, portanto, toda mentira sentida é a mais pura verdade por falta de outro comparativo.